Correio braziliense, n. 20435, 03/05/2019. Economia, p. 7

 

A maldição de maio

Rosana Hessel

03/05/2019

 

 

Conjuntura/ Desempenho da Bolsa de Valores neste mês no país é ruim há nove anos. Em 2017 e 2018, as denúncias da JBS contra o então presidente Temer e a greve dos caminhoneiros causaram grandes perdas no mercado de ações. Ontem, o Ibovespa recuou 0,86%

O mês de maio tem sido uma maldição para os investidores no mercado de ações brasileiro há nove anos consecutivos. Desde 2010, a Bolsa de Valores de São Paulo (B3) fecha o quinto mês do ano no vermelho. Ontem, no primeiro pregão de maio, o Ibovespa, principal índice da B3, fechou em queda de 0,86%, dando sinais de que o resultado pode se repetir.

“Maio é um dos piores meses para a bolsa, tradicionalmente, no mundo e aqui também. Nos últimos 10 anos, o Ibovespa só não caiu em 2009 e, desde 1994 até hoje, o mês com maior queda na bolsa é justamente maio”, afirmou o diretor de operações da corretora Mirae Asset Financial Group, Pablo Spyer. Ele lembrou que existe um movimento de realização de lucros forte nos Estados Unidos e na Europa, porque é costume do investidor sair da bolsa antes do verão e só voltar no outono do Hemisfério Norte. “Sell in may and go away (venda em maio e vá embora)”, citou.

“Antigamente, esse ditado era usado por aristocratas, mercadores e banqueiros da Inglaterra, que saiam nos verões quentes e voltavam quando o calor intenso passava. Mas, hoje, os investidores de bolsa dos EUA usam a frase para sair de férias”, explicou. Segundo Spyer, o comportamento do Índice Dow Jones, da Bolsa de Nova York, entre 1950 e 2013, deu credibilidade a esse ditado. “Mas, desde 2013, isso não se confirma com a mesma frequência por lá”, acrescentou.

A continuidade dessa maldição no mercado brasileiro neste ano, entretanto, vai depender de como será a tramitação da reforma da Previdência na Comissão Especial da Câmara dos Deputados, recém-criada para analisar a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) nº 6/2019, que trata do assunto, dizem especialistas. “Maio será decisivo para medir o termômetro da reforma. Tudo vai depender do Rodrigo Maia (presidente da Câmara) e de como o governo vai se articular para avançar a PEC na Comissão Especial”, avaliou o economista Alexandre Espírito Santo, da Órama.

“Se tomarmos como exemplo os dois últimos anos, os fatores políticos influenciaram negativamente a Bolsa e podem voltar a atrapalhar neste ano”, lembrou. O economista acaba de reduzir de 2,1% para 1,8% a previsão de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB), mas condiciona esse desempenho acima da mediana do mercado, de 1,7%, à aprovação da reforma até setembro na Câmara e no Senado.

Em maio de 2017, a denúncia dos donos do frigorífico JBS contra o ex-presidente Michel Temer abalou a B3, que precisou acionar o circuit breaker, mecanismo que interrompe o pregão quando a bolsa cai mais de 10%. Foi a última vez que isso ocorreu. Naquele mês, o Ibovespa recuou 4,3%. E, no ano passado, a greve dos caminhoneiros, que parou o país em 21 de maio, a B3 acumulou queda de 10,9% naquele mês e continuou caindo 5,2% em junho.

Explicações

Para analistas, entretanto, a queda de ontem foi puxada por fatores externos, pois a B3 acabou repercutindo a sinalização dada por Jerome Powell, presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos), de que não haverá redução de juros neste ano. Isso foi uma ducha de água fria nos mercados emergentes, cujas moedas voltaram a se desvalorizar. Não à toa, o dólar comercial subiu ante o real e encostou novamente nos R$ 4 ao longo do dia. A divisa norte-americana encerrou o pregão com alta de 0,23%, cotada a R$ 3,959 para a venda.

“A B3 teve uma pequena recuperação em abril (alta de 0,9%) depois de cair em fevereiro e em março, em grande parte, beneficiada pela valorização das ações de empresas exportadoras de carnes. Há uma expectativa de que até 20% da demanda mundial pode ser impactada pela peste suína na China, e o efeito imediato disso foi a valorização dos frigoríficos BRFoods, JBS e Marfrig. Logo, uma queda em maio será complexa para a economia”, explicou o analista da Ativa Investimentos, Ilan Arbetman. Segundo ele, os sinais internos e externos não são muito animadores para a atividade econômica do país em maio, uma vez que há vários fatores, inclusive esse aumento das exportações de carne, que devem pressionar os preços dos alimentos no mercado interno.

Receita reabre programa de IR

Apesar de a Receita Federal ter recebido, até o fim do prazo de entrega, um número maior de declarações de Imposto de Renda do que esperava — 30, 6 milhões, o Fisco reabriu o programa ontem às 8h para quem não enviou o documento ou precisa retificar alguma informação. Para quem só está prestando contas, agora haverá multa que varia de R$ 165,74 a 20% do imposto devido. A Receita recomenda que o contribuinte faça a declaração atrasada o mais rápido possível, para pagar uma multa menor, já que aumentam mensalmente. Assim que declarar, o contribuinte receberá uma notificação com o prazo para quitar a taxa. O pagamento deve ser feito em até 30 dias após a emissão.

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Balança tem superavit em abril

Beatriz Roscoe

03/05/2019

 

 

A balança comercial brasileira registrou superavit de US$ 6,061 bilhões em abril, de acordo com o Ministério da Economia. O valor é 2,3% superior ao alcançado em igual período no ano passado, pela média diária. Tanto as vendas quanto as compras para o exterior apresentaram queda no mês e no quadrimestre. No período de janeiro a abril, as exportações caíram 2,7% em relação ao mesmo período de 2018; e as importações, 0,8%.

O professor Alcides Vaz, do Instituto de Relações Internacionais da Universidade de Brasília (UnB), explica que os resultados — apesar de parecerem — não são tão positivos assim: “Esse resultado é fruto de uma diminuição das importações, o que demonstra desaquecimento da economia interna; e das exportações, o que indica o desaceleramento da economia global, então, na realidade, não é tão positivo quanto aparenta”.

O preço da soja em grão recuou 7,9% no quadrimestre, o que pesa bastante na balança comercial por ser um dos principais produtos de exportação brasileira. O minério de ferro teve aumento de 2,7% no valor, mas apresentou queda de 6,8% no volume de produção. O preço do petróleo bruto também diminuiu 6,6%; o do café em grão, de 17,4%; do açúcar bruto, 17%.

Herlon Brandão, subsecretário de Inteligência e Estatísticas de Comércio Exterior do Ministério da Economia, lembrou que a crise na Argentina afetou a balança comercial brasileira, principalmente nos automóveis. Com isso, houve redução de 46,5% no total de exportações para o país e 37,9% para o Mercosul. “É importante ressaltar que a crise argentina começou a se agravar a partir de abril”.

Como destaque positivo no mês de abril, a exportação de carne para a China aumentou expressivamente, devido a problemas sanitários que influenciaram a produção asiática e aumentaram a demanda de carne brasileira. A exportação de carne bovina teve um aumento de 48% no mês de abril, frango teve variação positiva de 36% e carne suína 51%.

A expectativa do Ministério da Economia para o saldo da balança comercial de 2019 é de US$ 50,1 bilhões — menor do que o ano passado, que ficou em US$ 58,3 bilhões.