Título: Tombini critica cartões
Autor: Cristino, Vânia; Martins, Victor
Fonte: Correio Braziliense, 13/09/2012, Economia, p. 11

Presidente do BC engrossa queixas de Dilma contra juros exagerados. Para ele, pagamento mínimo da fatura deve ser superior a 15%

Depois da presidente Dilma Rousseff mostrar toda a sua indignação, ontem foi a vez de o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, reclamar dos juros altos cobrados pelos cartões de crédito. Não sem motivo. Ente julho e agosto, conforme levantamento realizado pela Associação Nacional de Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac), os bancos reduziram os encargos em quase todas as linhas de empréstimos e financiamentos. A exceção foi o crédito rotativo do cartão, com taxa média de 238% ao ano.

O queixume de Tombini só não foi maior porque, segundo ele, felizmente, a rolagem de dívidas no cartão ainda representa pouco dentro do mercado de crédito no país. São R$ 40 bilhões, ou 10% do total de recursos liberados pelos bancos e administradoras. O que assusta o governo é o fato de esse mercado estar se expandindo muito rápido — 20% ao ano —, sobretudo entre a população de baixa renda, que não tem o conhecimento necessário para administrar as finanças. Por isso, de cada 100 pessoas que devem no cartão, 30% estão com as faturas em atraso, um índice quase quatro vezes maior do que o calote médio, de 8%.

A presidente Dilma disse que não descansará enquanto os juros dos cartões não caírem para níveis civilizados, principalmente porque o BC tem feito a sua parte ao reduzir o custo do dinheiro no país. A taxa básica (Selic), que serve de parâmetro para a formação de todos os encargos cobrados em empréstimos e financiamentos, está em 7,5% ao ano, o menor nível da história. Então, não há justificativas para, em apenas um mês, bancos e administradoras exigirem juros que 10,7% no cartão.

Na avaliação do presidente do Banco Central, uma das formas de evitar que tantos consumidores caiam nas armadilhas dos cartões, ao oferecerem crédito fácil, seria aumentar a exigência mínima para pagamento mensal das faturas. Hoje, essa parcela é de 15%. E deveria ter subido a 20% se o próprio BC não tivesse recuado. Preocupado com o baixo nível de consumo, o governo optou por ser mais flexível, mesmo reconhecendo os abusos das instituições financeiras e das administradoras. "Gostaríamos que o pagamento mínimo fosse muito maior. Mas, no curto prazo, criaria um problema para as pessoas que estão nesse processo", ponderou.

Para Miguel Ribeiro Oliveira, diretor da Anefac, a boa notícia é que os consumidores têm alternativas de juros mais baixos para comprar a prazo ou tomar empréstimos. Não precisam ficar reféns dos cartões. Ele acredita, inclusive, que há espaço para que o crédito como um todo fique mais barato. "A nossa expectativa é de que os juros voltem a ser reduzidos nos próximos meses", disse. Ele ressaltou que, entre julho e agosto, a taxa média de todas as linhas passou de 6,12% para 6,02% ao mês ou de 103,97% para 101,68% anuais. É possível, inclusive, que os encargos dos cartões se mexam para baixo, devido à decisão, na semana passada, do Banco do Brasil e da Caixa Econômica Federal cortarem as taxas, seguindo ordens da presidente Dilma.

Segundo a Associação Brasileira das Empresas de Cartões de Crédito (Abecs), entre abril e junho, o setor cresceu 20% e faturou R$ 191 bilhões.

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Consumidores ainda sofrem com taxas elevadas, sobretudo no dinheiro de plástico

Modalidades Julho/12 Agosto/12

Cartão de crédito 238,3% 238,3% Cheque especial 153,8% 153,2% Empréstimo financeiras 149,6% 142,7% Juros do comércio 72,5% 70,5% Empréstimo bancos 52,3% 50,2% CDC automóveis 23,8% 22,4% Média geral 103,9% 101,7%