Valor econômico, v. 19 , n. 4648 , 12/12/2018. Política, p. A8

 

Aécio é alvo de mais uma operação da PF

Luísa Martins,

Isadora Peron 

Marcos de Moura e Souza

​12/12/2018

 

 

senador Aécio Neves (PSDB-MG) e sua irmã, a jornalista Andrea Neves, foram alvos de buscas e apreensões realizadas ontem pela Polícia Federal (PF) no âmbito da Operação Ross. Autorizada pelo ministro Marco Aurélio Mello, do Supremo Tribunal Federal (STF), a ação busca apurar repasses indevidos de R$ 128 milhões feitos ao tucano por executivos do grupo J&F, em esquema que teve início em 2014 e perdurou até o ano passado.

Baseado nos acordos de delação premiada dos empresários do frigorífico JBS, o inquérito que tramita contra Aécio no Supremo investiga suposta conta que o tucano mantinha junto à empresa, por meio da qual ele teria comprado o apoio político de 12 partidos, como o SD, o PTB, o PSL (à época sem o presidente eleito Jair Bolsonaro) e o DEM.

Também é mencionado um "mensalinho" de R$ 50 mil pagos pela JBS ao próprio senador. O esquema se mantinha a partir da emissão de notas fiscais frias, emitidas por serviços nunca efetivamente prestados.

São investigados os crimes de corrupção passiva, organização criminosa e lavagem de dinheiro. Em ofício enviado a Marco Aurélio, a procuradora-geral da República, Raquel Dodge, afirma haver "relação espúria e duradoura entre Aécio Neves e executivos de um dos maiores grupos empresariais brasileiros, que, confessadamente, praticaram múltiplos atos de corrupção em todas as escalas do poder".

À Procuradoria-Geral da República, a PF informou ver indícios de que Aécio solicitou verbas ilícitas ao grupo J&F pelo menos quatro vezes. "Ficaram demonstrados indicativos da atuação do parlamentar, nessa qualidade, como contrapartida aos benefícios financeiros", escreveu Marco Aurélio, em referência à influência do parlamentar junto ao governo de Minas Gerais para viabilizar às empresas do conglomerado a restituição de créditos fiscais e de ICMS.

A PF chegou a pedir a suspensão do mandato e a prisão domiciliar de Aécio e dos deputados Cristiane Brasil (PTB-RJ), Paulinho da Força (SD-SP) e Benito Gama (PTB-BA), mas a PGR não concordou. Os argumentos foram acolhidos pelo relator: "O órgão acusador destacou que a situação de plena liberdade do investigado não representa risco à ordem pública. A presunção é de postura digna, ante o fato de o investigado estar submetido aos holofotes da Justiça."

Por outro lado, a PGR apoiou pedidos de prisão preventiva quanto aos empresários Ricardo Guedes, Paulo Vasconcelos e Flávio Jacques, ligados a Aécio. Marco Aurélio, no entanto, também os indeferiu, permitindo apenas as buscas e apreensões.

Com a negativa de Marco Aurélio, os deputados Cristiane Brasil e Benito Gama e os senadores Agripino Maia (DEM-RN) e Antonio Anastasia (PSDB-MG) foram apenas intimados pela PF a prestar depoimento - medida que, segundo apurou o Valor, não necessita de prévia autorização judicial. Também deverá prestar esclarecimentos o tesoureiro do PTB, Luiz Rondon.

Dodge observou que o recebimento de dinheiro pelos partidos políticos em troca de apoio à campanha de Aécio à presidência, em 2014, deve ser aprofundado - há evidências de que os repasses tenham sido realizados de forma oficial, justamente para "maquiar" sua origem ilícita.

Durante os mandados de busca e apreensão em Minas, São Paulo e Rio de Janeiro, a PF recolheu computadores, celulares, documentos e mídias digitais - os itens serão analisados como complemento à investigação.

Em nota, o advogado de Aécio, Alberto Zacharias Toron, considerou "desnecessárias" as buscas realizadas em imóveis do senador e frisou que as doações da JBS às campanhas tucanas em 2014 foram devidamente declaradas à Justiça Eleitoral. "Executivos da JBS tentam transformar as doações em algo ilícito para, convenientemente, tentar manter os generosos benefícios de seus acordos de colaboração", escreveu. Os demais alvos da operação também negam irregularidades.