Valor econômico, v. 19, n. 4648 , 12/12/2018. Brasil, p. A2

 

RR receberá verba de emergência

 

 

 

 

Carla Araújo

Fabio Murakawa

​12/12/2018

 

 

Depois de uma reunião com o presidente Michel Temer, o governador eleito de Roraima e interventor no Estado, Antonio Denarium (PSL), conseguiu a promessa de uma verba de R$ 200 milhões para pagar os salários atrasados dos servidores públicos estaduais, incluindo agentes de segurança. O valor é o mesmo estimado pela equipe do governo que decidiu pela intervenção federal na última sexta-feira.

O recurso é da União e deve sair do orçamento da pasta de Segurança Pública. A expectativa é que o crédito extraordinário seja liberado até o fim da semana. Além da entrada em massa de venezuelanos, o Estado convive com a greve dos agentes penitenciários e da Polícia Militar, que estão sem salário há quase três meses. Apesar de os servidores sinalizarem o fim da greve com a intervenção, suas mulheres estão na frente dos quartéis e informam que só se desmobilizarão quando o pagamento cair.

Denarium disse que chegou a pedir ao governo uma cifra maior, de R$ 500 milhões, o que foi negado, segundo o ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha. "Neste governo está totalmente fora de cogitação [R$ 500 milhões]", afirmou.

Em entrevista ao Valor, Denarium disse que os R$ 200 milhões servirão para pagar os salários e o 13º do funcionalismo. Segundo ele, os R$ 300 milhões adicionais seriam destinados às áreas de saúde, educação, segurança pública e despesas como água, luz, pagamento de consignados, previdência privada e INSS.

O interventor atribui a crise no Estado à administração de Suely Campos (PP). "Faltou uma gestão mais profissionalizada e mais técnica. O governo atual perdeu o controle da gestão do Estado, houve muitos casos de desvio de dinheiro público", disse.

Ele acrescentou que a chegada dos refugiados venezuelanos contribuiu para a crise nas áreas da saúde e da educação nos Estados. "Hoje, 50% dos atendimentos dos hospitais de Roraima são a venezuelanos. Os recursos não são suficientes. E este é um problema que não é só de Roraima, é do Brasil."

Denarium depois se reuniu com o futuro ministro da Justiça, Sérgio Moro, e pediu que o governo Jair Bolsonaro acelere a interiorização dos venezuelanos.

Denarium evitou dizer se pretende rever com Bolsonaro tratados internacionais que impedem que o país negue abrigo a refugiados. "Precisamos ter um controle mais rígido e mais eficaz da fronteira. É importante lembrar que eles estão entrando como refugiados mas junto com os bons entram os ruins também", afirmou. Ele afirmou que já conversou com o futuro presidente sobre a possibilidade de que a intervenção no Estado continue na "área da segurança e da Fazenda" pelo menos até o dia 28 de fevereiro.

A intervenção no Estado foi aprovada ontem na Câmara por 290 votos a 69. A oposição foi contra a medida, afirmando que o governo pretende usar o mesmo expediente que adotou na segurança pública do Rio de Janeiro para contrariar a vontade popular. "Não vale o argumento de que há crise fiscal, porque há crise fiscal em muitos Estados e municípios. Não vale crime organizado nos presídios, porque infelizmente há crime organizado nos presídios de todo o país", disse o líder do PCdoB na Câmara, Orlando Silva (SP).