Título: Obama rebate Romney
Autor: Tranches, Renata
Fonte: Correio Braziliense, 13/09/2012, Mundo, p. 17

Presidente refuta crítica do adversário à atuação do governo no episódio das embaixadas. Incidente coloca pela primeira vez a política externa no foco da campanha pela Casa Branca

Os ataques contra representações dos Estados Unidos em Benghazi e no Cairo, com a morte do embaixador na Líbia e desdobramentos em outros países da região, aterrissaram ontem na campanha para a eleição presidencial de novembro e provocaram bate-boca entre as equipes de campanha. Ainda na noite de terça-feira, rompendo um acordo tácito entre os candidatos de evitar críticas mútuas no aniversário dos atentados de 11 de setembro, um comunicado da oposição republicana acusou o presidente Barack Obama de cometer um "grave erro de cálculo" na Líbia e dar uma "resposta vergonhosa" ao episódio. Os democratas imediatamente culparam os adversários de politizar a tragédia.

Em entrevista ao noticiário 60 Minutes, da CBS News, o presidente contra-atacou duramente o adversário, Mitt Romney. "Ele parece ter a tendência de atirar primeiro e perguntar depois", disse. "Como presidente, uma das coisas que tenho aprendido é que não se pode fazer isso. É importante ter certeza de que o comunicado que se está divulgando se baseia em fatos e que você já pensou nas consequências antes de torná-lo público", emendou. Na imprensa americana, analistas avaliaram que os incidentes têm potencial para colocar a política externa na disputa — em cenário favorável à reeleição de Obama, que tem entre suas credenciais o fim de uma longa e cara guerra no Iraque e a execução de Osama bin Laden depois de uma década de caçada.

A crise se perfila também como um teste para o desafiante republicano, citicado pela inexperiência internacional. Em reportagem publicada no blog do New York Times, a jornalista Ashley Parker relatou que a campanha republicana atropelou o acordo tácito de terça-feira ao publicar, às 22h30, seu comunicado criticando uma suposta resposta do governo americano ao ataque sofrido pelas embaixadas. O texto, segundo a jornalista, estaria embargado até meia-noite, mas foi liberado após a publicação de uma nota da embaixada Egito, que condenava as ofensas ao islã contidas no filme que desencadeou os protestos. A nota foi desautorizada por Washington, mas a campanha republicana deu a entender que aquele era o comentário "da administração Obama" e que se remeteria também à morte do embaixador Christopher Stevens.

Debate Com o interesse dos eleitores focalizado na economia, política externa e a segurança nacional têm ficado em segundo plano na corrida pela Casa Branca. Mas a última crise, na avaliação da cientista política Melissa Miller, da Universidade Estadual Bowling Green (Ohio), poderá trazer o tema para o centro das discussões. Segundo Melissa, se o pleito de novembro pesa para Obama como um plebiscito sobre seu desempenho no combate à crise, a frente internacional pode render-lhe votos.

As diferenças de tratamento do tema ficaram evidentes nos discursos feitos pelos candidatos durante as convenções partidárias, nas duas últimas semanas. Enquanto os republicanos foram criticados por não darem destaque ao Afeganistão ou às tropas norte-americanas em combate, os democratas fizeram desses tópicos e da caçada e morte de Bin Laden algumas de suas principais vitrines. "Além disso, existe uma tendência entre os americanos, em situações como essa, de se unirem em apoio ao presidente. É um efeito que chamamos de rally round the flag ("todos com a bandeia nacional"), explicou a estudiosa em entrevista ao Correio.

Linha cruzada com Israel A crise nuclear com o Irã é outro tema do Oriente Médio que ontem marcou presença na corrida para a Casa Branca. O líder da oposição trabalhista israelense, Shaul Mofaz, acusou ontem o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu de intrometer-se no processo eleitoral americano, por ter criticado a opção preferencial do governo de Barack Obama pela diplomacia no impasse com Teerã. "A ingerência israelense em assuntos internos americanos, fazendo de um aliado outro inimigo, nos prejudica muito", afirmou Mofaz. Netanyahu, que pressiona Washington por uma postura mais agressiva, fez coro com o candidato da oposição republicana, Mitt Romney, que acusa o presidente de "abandonar" Israel. "Não cabe a nós definir o nome do próximo presidente americano", disse Mofaz.