Valor econômico, v.19, n.4649, 13/12/2018. Internacional, p. A11

 

Debate na CoP é travado por exigências distintas para países ricos e pobres 

Daniela Chiaretti 

13/12/2018

 

 

Uma das grandes questões que travam as negociações das regulamentações do Acordo de Paris na CoP 24, na Polônia, é a diferenciação entre os compromissos e obrigações dos países ricos e dos em desenvolvimento.

Na conferência climática de Katowice isso se reflete, por exemplo, na maneira com que os países têm de relatar as suas emissões, em quais setores, quais os progressos em relação às metas do Acordo de Paris, quais gases-estufa são medidos, entre outros pontos.

Para países florestais, como o Brasil, fazer um acurado inventário de emissões é caro e leva tempo. "Exige, por exemplo, que se olhe, manualmente, mais de 15 milhões de polígonos em imagens para ver o que mudou na floresta", exemplifica um diplomata.

Os países ricos têm que relatar emissões todos os anos. O que se discute em Katowice, por exemplo, é a periodicidade dos relatórios dos países em desenvolvimento. "Tem os que querem que todos façam isso anualmente. Não tem como. E muito menos sem recursos claros e previsíveis", segue o diplomata.

O Livro de Regras do Acordo de Paris, que está sendo discutido na conferência do clima da ONU, tem vários exemplos disso. "Não podemos aceitar que os países ricos não cumpram seus compromissos financeiros e exijam mais do mundo em desenvolvimento."

"Os países não estão na mesma posição. Alguns têm mais recursos, outros são mais vulneráveis. A diferenciação é um desafio nesta conferência", resumiu Derek Hanekom, chefe da delegação da África do Sul. "É preciso que isso seja entendido e que exista algum grau de flexibilidade nas exigências".

"Defendemos a flexibilidade, mas sem retrocessos", disse o ministro do Meio Ambiente, Edson Duarte, chefe da delegação brasileira. "Estamos defendendo o que se conquistou em Paris. Não queremos regulamentações leves, minimalistas", completou o embaixador José Antonio Marcondes de Carvalho, chefe dos negociadores brasileiros.

Neste embate, a falta de liderança do processo impede maiores avanços. "Se a Europa liderasse, seria ótimo. Se a China liderasse, seria ainda melhor", disse Vanessa Perez Cirera, do WWF Internacional. "O Livro de Regras que está sendo discutido na Polônia é essencial, mas não é suficiente. Temos que aumentar a ambição, ter metas mais fortes".

"O que quer dizer liderar em um acordo climático"?, reagiu Miguel Arias Cañete, comissário europeu para ação climática e energia à imprensa. "É ter ambição nas metas. Temos as maiores metas, políticas, legislação. Somos os únicos a ter uma meta de neutralidade em emissões em 2050. Somos os que mais colaboram com finanças climáticas. Isso é liderança", protestou.

"Imaginem que estamos colocando um suéter em volta do planeta ao ano", reagiu o climatologista belga Jean-Pascal van Ypersele referindo-se às bilhões de toneladas de gases-estufa que são emitidos todos os anos com a queima dos combustíveis fósseis e desmatamento. "Esta metáfora ajuda a entender porque é tão importante reduzir as emissões globais o mais rápido que pudermos e chegar perto da emissão líquida zero", continuou. "Se não fizermos isso, vamos sufocar".

A jornalista viajou à Polônia a convite do Instituto Clima e Sociedade (ICS)