Título: Delator do esquema começa a ser julgado
Autor: Campos, Ana Maria; Abreu, Diego
Fonte: Correio Braziliense, 17/09/2012, Política, p. 4

Roberto Jefferson está entre os 23 réus que terão os destinos decididos no STF na nova fase do processo

Sete anos depois de provocar um abalo na República pelas denúncias do mensalão, o presidente do PTB, Roberto Jefferson, vai enfrentar, a partir de hoje, o julgamento dos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF). Em meio a um tratamento de câncer, o político pode ser condenado por corrupção passiva e lavagem de dinheiro.

O advogado do petebista, Luiz Francisco Barbosa, tenta amenizar uma eventual pena, com a colaboração do réu no esclarecimento dos fatos. Mesmo sem delação premiada, a lei permite esse benefício no cálculo da pena. Mas, a depender da ótica, essa ajuda pode comprometê-lo. Jefferson é o único que não pode alegar inocência, nem mesmo que não sabia da existência de um esquema criminoso envolvendo Marcos Valério. O empresário ficou conhecido nacionalmente justamente pelas denúncias do petebista.

Jefferson confessou que dirigentes do PTB negociaram com o ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares o recebimento de R$ 20 milhões em cinco parcelas. Parte do dinheiro, segundo relato do próprio Jefferson, foi pago diretamente por Marcos Valério. Dirceu e Luiz Inácio Lula da Silva sabiam de tudo, de acordo com o petebista, que tentou, em vão, até o último minuto, arrastar o ex-presidente da República para a denúncia do mensalão.

Na ação, a Procuradoria Geral da República sustenta que Jefferson recebeu R$ 4 milhões diretamente de Marcos Valério, sendo a primeira parcela de R$ 2,2 milhões e outra de R$ 1,8 milhão, em cédulas envoltas em fitas do Banco Rural e do Banco do Brasil.

Núcleo político Em 23 sessões realizadas desde 2 de agosto, os ministros já condenaram 10 pessoas e absolveram apenas três. Agora chegou a vez do núcleo político. O item 6 da denúncia é dividido em quatro subitens. Cada um trata dos supostos pagamentos de propinas a partidos da base aliada do governo. O primeiro se refere ao PP. Os demais dizem respeito ao PL (atual PR), ao PTB e ao PMDB.

O relator, Joaquim Barbosa, deve fazer um voto contínuo abrangendo todos os quatro subitens, para somente depois o revisor, Ricardo Lewandowski, votar. A tendência é que Barbosa leve até duas sessões para apresentar seu voto. Logo que começar a sessão, os ministros vão debater sobre a convocação de reuniões extras para acelerar o julgamento. Nesse item, 23 réus serão julgados (veja quadro).

Conforme relatou o ministro Dias Toffoli na última sessão, o julgamento finalmente chega na fase em que será avaliado se o mensalão propriamente dito ocorreu. A maior parte dos ministros já desconstruiu a tese de que os recursos oriundos de empréstimos obtidos pelas empresas de Marcos Valério e repassados para políticos teriam servido para abastecer caixa 2.

Os próximos réus Confira pessoas ligadas ao núcleo político que serão julgadas a partir desta semana, e as acusações que pesam contra elas no item seis da Ação Penal 470

Anderson Adauto » Ex-ministro dos Transportes, hoje prefeito reeleito de Uberaba (MG), é acusado de ter recebido R$ 950 mil de Marcos Valério e de ter intermediado apoio político.

Antônio Lamas » Era assessor do PL na Câmara. Hoje, trabalha como gerente de uma casa lotérica. Foi acusado de intermediar repasses ao PL, mas a PGR pediu a absolvição dele por falta de provas.

Bispo Rodrigues » Era deputado pelo PL-RJ e vice-presidente do partido. Hoje, é sócio de emissoras de radio e tevê. É acusado de ter recebido propina para votar a favor do governo.

Delúbio Soares » Apontado como o grande operador financeiro do esquema. Segundo a denúncia, era o elo entre o núcleo político e Marcos Valério. Era tesoureiro do PT e, depois do escândalo, deixou o partido, mas retornou e tem pretensões de se candidatar.

Emerson Palmieri » Era tesoureiro informal do PTB e diretor da Embratur. Hoje, é fazendeiro. Acusação: ajudou a intermediar a propina em favor do PTB.

Jacinto Lamas » Ex-tesoureiro do PL, hoje funcionário da Câmara, responde por intermediar repasses ao PL.

João Cláudio Genú » Era assessor do então deputado José Janene. Hoje, tem empresa de gestão empresarial e consultoria imobiliária É acusado de ter sido o intermediário do Valerioduto para o PP.

José Borba » Era deputado e líder do PMDB. Hoje é prefeito de Jandaia do Sul (PR). Acusado de ter recebido propina para votar a favor do governo.

José Dirceu » Ex-ministro-chefe da Casa Civil, apontado como o líder do esquema. Era deputado federal, mas por causa do escândalo do mensalão teve o mandato cassado em 2005. Está inelegível até 2014, mas ainda tem grande influência no PT.

José Genoino » Ex-presidente do PT e ex-deputado, trabalha como assessor no Ministério da Defesa. Assinou empréstimos com a SMP&B que o STF já concluiu como simulados. É acusado de ter intermediado acordo com vantagens financeiras com partidos.

Marcos Valério » É considerado o operador do mensalão. Nas primeiras semanas do julgamento, já foi condenado por corrupção ativa, peculato e lavagem de dinheiro.

Pedro Corrêa » Era deputado federal (PP-PE) e presidente do PP. Hoje, ainda integra a direção nacional do partido. Acusação: receber propina em troca de apoio ao governo e lavar dinheiro.

Pedro Henry » O deputado federal (PP-MT) era líder do partido na época. Acusado de ter recebido dinheiro em troca de apoio ao governo.

Roberto Jefferson » Delator do esquema do mensalão, era deputado federal e teve o mandato cassado por causa do escândalo, em 2005. Teria recebido R$ 10 milhões para levar o PTB a apoiar o governo. Hoje é presidente nacional do partido.

Romeu Queiroz » Ex-deputado federal (PTB-MG), hoje é deputado estadual pelo PSB. Acusação: pegou dinheiro para o PTB e para si próprio e ocultou a origem.

Valdemar Costa Neto » Deputado federal pelo PR-SP, era parlamentar do PL. Acusado de receber dinheiro em troca de apoio político, será julgado por corrupção passiva, formação de quadrilha e lavagem de dinheiro.