Correio braziliense, n. 20433, 01/05/2019. Economia, p. 6

 

Desemprego cresce e atinge 13,4 milhões

Hamilton Ferrari

Marina Torres

01/05/2019

 

 

Conjuntura/ Taxa de desocupação passa de 11,6% no último trimestre de 2018 para 12,7% de janeiro a março. Número de subutilizados e desalentados aumenta no período. Demora na retomada da economia pode comprometer o PIB deste ano

Apesar de a economia estar se recuperando lentamente desde 2017, o mercado de trabalho não dá sinais de melhora. Pelo contrário, os dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostrou que a taxa de desemprego aumentou entre o último trimestre de 2018 e o primeiro de 2019, passando de 11,6% para 12,7%. Na prática, significa que o número de pessoas que procuram vagas subiu de 12,2 milhões para 13,4 milhões.

Segundo analistas, a alta no período é normal, já que, em comparação com os últimos meses do ano, há uma redução de trabalhos temporários, em razão do fim das festividades em 2018. Mesmo assim, o número de desempregados ainda é parecido com o registrado no primeiro trimestre do ano passado, quando marcou 13,6 milhões de pessoas (veja quadro ao lado). De lá para cá, foram criados pouco menos de 250 mil vagas, o que, estatisticamente, não representa uma mudança significativa.

Márcio Reis, 37 anos, é uma das pessoas que perderam o emprego em 2019. Ele percebeu como está difícil ocupar espaço no mercado de trabalho. “Estou procurando uma vaga desde o início deste ano. Trabalhei como segurança e brigadista e gostaria de continuar na área, mas está difícil”, lamentou. Amadeu de Freitas, 55, que é técnico de informática e eletricista, trava uma luta diária de enviar currículo há seis meses. “É muito difícil encontrar uma oportunidade, principalmente, no setor de eletrônica. As vagas caíram muito nessa área,” destacou.

O nível de subutilização — que representa pessoas que trabalham por menos do que 40 horas semanais e estão insatisfeitas — também preocupa. Isso porque bateu o recorde da série histórica, com 28,3 milhões de indivíduos, o que representa 25% da força de trabalho. Além disso, chegou a 4,8 milhões a quantidade de pessoas que desistiram de procurar emprego porque acharam que não conseguiriam, os denominados de desalentados.

Analistas defendem, porém, que há uma certa melhora nos dados. Pela primeira vez, desde o último trimestre de 2014, ou seja, antes da crise, houve alta do emprego no setor privado com carteira assinada. A variação entre o primeiro trimestre de 2018 e o mesmo período deste ano foi pequena, de 0,2%, passando de 32,83 milhões para 32,91 milhões de pessoas. A recuperação do mercado é, predominantemente, nos empregos informais e por conta própria, que subiram 4,4% e 3,8%, respectivamente, no mesmo intervalo de tempo.

Estabilidade

Maria Andreia Lameiras, técnica de planejamento e pesquisa do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), explicou que não é possível diagnosticar uma piora do mercado de trabalho, mas, sim, uma estagnação duradoura. “Em um ano, gerou vagas, mas não foram suficientes para dar uma melhorada. São vagas informais, de pior qualidade. O que puxa é o aumento da ocupação sem carteira de trabalho e por conta própria”, disse. “Nós podemos ver que o mercado está numa estabilidade ruim, num patamar baixo. Há apenas pequenos sinais de melhora”, completou.

Segundo especialistas, o desempenho do mercado no primeiro trimestre reflete a atividade econômica fraca. O economista Rafael Cardoso, da Daycoval Asset Management, afirmou que o desemprego alto e a ocupação informal são limitadores do consumo. “Assim como os outros diversos dados de atividade econômica do primeiro trimestre, o desemprego divulgado hoje (ontem) retrata a falta de ímpeto da economia brasileira no início de 2019 e dá respaldo às projeções atuais de crescimento do PIB entre 1,5% e 2,0% para o ano”, estimou.

O economista-chefe da Necton Investimentos, André Perfeito, destacou que ainda não fez os cálculos, mas avalia que o primeiro trimestre de 2019 pode ser até negativo. Para o ano, o PIB deve ser de 0,91%. Ou seja, menor do que o resultado do ano passado.

________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

Incerteza sobe no mês

Gabriela Tunes 

01/05/2019

 

 

A incerteza do brasileiro com a economia atingiu o maior patamar desde as eleições presidenciais de 2018. Em abril, segundo pesquisa da Fundação Getulio Vargas (FGV), o indicador de incerteza da economia (IIE-Br) avançou 8,1 pontos, chegando a 117,3 pontos. De acordo com a pesquisadora Raíra Marotta, da FGV Ibre, fatores internos e externos contribuíram para o resultado. “No cenário interno, a instabilidade política do governo e a gradual, mas consistente, tendência à revisão dos indicadores da economia; no externo, a guerra comercial entre EUA e China”, explicou.
O índice é baseado em informações coletadas na mídia, na Bolsa de Valores e leva em conta as expectativas do mercado financeiro sobre as variáveis macroeconômicas. Em março, o índice apresentou 109,2 pontos, uma diminuição de 2,1 pontos em relação a fevereiro, que já havia caído 0,2 ponto quando comparado a janeiro.
Segundo a FGV, o indicador mídia, que é baseado na frequência de notícias com menção à incerteza em publicações impressas e on-line, contribuiu com 5,4 pontos no resultado final, subindo 6,4 pontos entre março e abril. Já o componente de expectativa, construído a partir da média dos coeficientes de variação das previsões dos analistas econômicos, contribuiu com 2,5 pontos, registrando alta de 11,4 pontos no mesmo período.
Para Raíra Marotta, o aumento do indicador reflete as atuais estabilidades políticas. “O atraso da aprovação da reforma da Previdência contribui para isso, pois deixa o cenário incerto”, disse. Caso o governo federal e o Congresso se entendam, a pesquisadora da FGV acredita em melhora de incertezas. “Nos próximos meses, na medida em que o governo consiga avançar no alinhamento claro com o Congresso, é possível que o indicador volte a recuar”, afirmou.