Correio braziliense, n. 20436, 04/05/2019. Política, p. 2
Damares nega saída e demite Tia Eron
04/05/2019
A ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, Damares Alves, não deve perder o cargo numa possível reforma ministerial. Ontem, a titular da pasta negou informações que bancavam a saída dela, por suposto cansaço e problemas de saúde. De Aracaju, onde cumpriu a agenda desde quinta-feira, ela gravou um vídeo refutando a intenção de deixar o governo. Disse, ainda, que pretende seguir na função “até o dia em que ele (o presidente Jair Bolsonaro) quiser”.
O suposto desejo de Damares de deixar o ministério estaria atrelado ao estresse desencadeado pelas ameaças de morte que tem recebido. A ministra não comentou o assunto no vídeo, mas afirmou que, além da vontade de Bolsonaro, a saúde ditará até quando seguirá no cargo. Ela se disse empenhada em ações da pasta referentes a maio, “mês laranja” de enfrentamento à violência sexual infantil. “E maio é mês de adoção. Temos muito trabalho a fazer, protegendo crianças e famílias”, declarou.
As ameaças de morte são uma realidade que a ministra enfrenta diuturnamente, admitiu um interlocutor. “Ela lida com os ataques desde antes da transição, mas eles aumentaram depois que assumiu o ministério”, afirmou. Internamente, assessores atribuem à oposição a pretensa decisão de afastamento de Damares.
Intimidações à ministra são monitoradas pelo Gabinete de Segurança Institucional (GSI) da Presidência da República. Entretanto, não são algo que a fará largar o posto. “Ela tem uma personalidade muito forte. Não é uma pessoa de fugir de desafios”, sustentou um assessor.
A prova de que Damares não tem intenções de sair é a demissão da secretária nacional de Políticas para as Mulheres, Tia Eron, ex-deputada pelo PRB, segundo publicou ontem o Estado de S.Paulo.
A justificativa seria o incômodo com a “falta de produtividade” da secretária e com a quantidade de pessoas “ligadas à esquerda” que ela teria nomeado. A exoneração deve ser publicada no Diário Oficial da União nos próximos dias. Tia Eron deve ser substituída pela secretária-adjunta de Política para as Mulheres, Roseane Cavalcante, conhecida como Rosinha da Adefal, ex-deputada pelo Avante, que assume interinamente. (RC)
Eu não vou sair deste governo. Nós estamos com tantos projetos iniciando agora. Tem tanta coisa pra fazer, e não há nenhuma intenção de deixar o governo”
Damares Alves, em entrevista à Rádio Guaíba, de Porto Alegre
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Voto contra Cunha
A então deputada Tia Eron ganhou visibilidade em 2016 ao dar o voto decisivo para a aprovação, no Conselho de Ética da Câmara, do parecer que cassou o então presidente da Casa, Eduardo Cunha. Na época, ela fez suspense sobre qual seria seu voto, mas acabou votando contra Cunha. A Secretaria Nacional de Políticas para as Mulheres, que era comandada por ela no ministério, é responsável pelo disque-denúncia 180 — serviço de atendimento a mulheres vítimas de violência — e por financiar centros de acolhida, unidades de atendimento e campanhas educativas para prevenir e remediar a violência sexual e doméstica contra a mulher.