Título: Doações recompensadas
Autor: Valadares , João
Fonte: Correio Braziliense, 15/09/2012, Política, p. 2

As 11 empreiteiras procuradas pelo ex-diretor-geral do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transporte (Dnit) Luiz Antônio Pagot, que já tinham contratos assinados com o órgão e fizeram doações para a campanha da presidente Dilma Rousseff após um pedido "não ético" do ex-chefe da autarquia, receberam juntas, em 2011 e 2012, R$ 2 bilhões do governo federal. As empresas doaram R$ 9,6 milhões e depois enviaram o recibo a Pagot para comprovar a contribuição com a caixinha do partido. Seis delas passaram a engordar os cofres justamente a partir do primeiro ano do governo Dilma. Levantamento realizado pelo Correio aponta que quem doou mais recebeu mais.

A Construcap, que destinou R$ 2 milhões à campanha presidencial do PT, teve um aumento de 66% nos valores recebidos em relação ao biênio 2009/2010. Os repasses saltaram de R$ 166 milhões para R$ 276 milhões. Conforme dados do Siga Brasil, portal que registra todas as receitas e despesas do governo, a empreiteira mantém contrato exclusivamente com o órgão desde 2009. Não recebe um centavo de nenhuma outra pasta. O contrato mais volumoso, na ordem de R$ 326 milhões nos últimos quatro anos, é o da adequação do trecho rodoviário da BR-101, na divisa entre Santa Catarina e o Rio Grande do Sul.

Sentado diante dos parlamentares, na CPI do Cachoeira, Pagot deixou claro que o órgão foi usado como atalho para arrecadar os recursos. Assumiu que procurou as empresas após ser acionado pelo tesoureiro da campanha, deputado José Di Fillipi (PT-SP).

"Apresentei a ele (Di Filippi) a lista das empresas com quem tínhamos contratos. Ele mandou não me preocupar com as maiores e escolher umas 30 ou 40 para pedir apoio. Fiz isso, sim. Algumas enviaram boletos comprovando que doaram para a campanha. Outras eu constatei depois que também contribuíram", contou Pagot, antes de admitir que cometera um erro: "Depois desse ato, fiquei aborrecido comigo mesmo. Percebi o tamanho da bobagem que fiz. Não é ético".

Da lista de Pagot, as empreiteiras Barbosa Mello, Construcap, Egesa, STE, Trier e Triunfo começaram a receber mais recursos do Dnit após depositarem no caixa do PT. A Egesa é a segunda que mais faturou. Em 2011/2012, a construtora ganhou R$ 551 milhões para tocar obras rodoviárias. Nos dois anos anteriores, os contratos assinados chegaram a R$ 375 milhões. A empresa teve um aumento percentual de faturamento com obras do Dnit de 47%. Atualmente, só recebe repasse do Ministério dos Transportes. Em 2009 e 2010, ganhou R$ 66 milhões para executar um trecho da Transposição do Rio São Francisco, contrato firmado com a Integração Nacional. No Dnit, o maior valor recebido foi pelo contrato de manutenção das rodovias federais do Maranhão. Só nessa obra, recebeu R$ 39,8 milhões neste ano.

Artifício A Barbosa Mello também viu o fluxo de recursos para seu cofre aumentar após o contato com Pagot. Em 2009/2010, a empreiteira foi contemplada com R$ 259 milhões. No governo Dilma, já recebeu R$ 370 milhões só do Dnit, um acréscimo de 43%.

Grande parte das doações foi realizada diretamente para o Diretório Nacional do PT. Um artifício bastante comum para não evidenciar que o dinheiro foi encaminhado diretamente para a campanha presidencial.

No depoimento prestado à CPI do Cachoeira em 28 de agosto, Pagot ressaltou que apresentou as informações. "Eu apresentei uma lista completa de todas as empresas que tinham contrato com o Dnit, que é uma lista imensa, certo? Ele (deputado José Di Fillipi) até não perdeu muito tempo e disse: "Olha, com as maiores aqui, você não precisa se preocupar, porque isso aqui é assunto do comitê central. Você escolhe umas 30 ou 40 aqui e vai atrás para ver se eles têm possibilidade de fazer alguma doação". E foi o que eu fiz."

O ex-diretor informou que teve uma conversa informal com os donos das empresas. "Na conversa que tive, eu disse: "Veja lá o que vocês podem fazer". E muitas das empresas que eu procurei inclusive nem doaram."

Frustração O ex-diretor do Luiz Antônio Pagot foi convocado pelos parlamentares da CPI do Cachoeira e depôs, por cerca de oito horas, em 28 de agosto. O depoimento era aguardado com muita expectativa, porém, no fim, deputados e senadores da oposição acabaram se frustrando. Eles esperavam revelações bombásticas do ex-chefe do Dnit.

R$ 2 bilhões Valor recebido pelas 11 empresas que foram procuradas por Luiz Antônio Pagot, ex-diretor-geral do Dnit