Título: Prévia do PIB cresce só 0,42%
Autor: Cristiano, Vânia
Fonte: Correio Braziliense, 15/09/2012, Economia, p. 15

A roda está girando, mas ainda devagar. O nível de atividade econômica do país começou o segundo semestre de 2012 em alta, segundo informações divulgadas ontem pelo Banco Central. Em julho, o Índice de Atividade Econômica do BC (IBC-Br), que busca antecipar o resultado do Produto Interno Bruto (PIB) do país somou 142,25 pontos, com crescimento de 0,42% em relação a junho (141,66 pontos).

Apesar do crescimento em ritmo até mais forte do que o esperado pelo mercado, houve desaceleração na comparação com o mês anterior. De maio para junho, a expansão registrada pelo BC havia sido de 0,61%. O aumento de julho foi o quarto consecutivo do ano. A última vez que o indicador indicou queda foi de fevereiro para março. Nos sete primeiros meses deste ano, na comparação com igual período de 2011, a elevação é de 1,08%.

"Com o resultado positivo de julho, o IBC-Br reforça nossa expectativa de que a atividade econômica avançará em ritmo mais forte ao longo do segundo semestre", disse o diretor de Pesquisas e Estudos Econômicos do Bradesco, Octavio de Barros. O economista destaca que os indicadores recentes confirmam o processo de retomada gradual da economia doméstica. " A expansão do PIB no terceiro trimestre deverá ser superior ao verificado entre abril e junho", afirmou.

O IBC-Br foi criado pelo BC para tentar antecipar o resultado do PIB, sempre divulgado com defasagem, e ajudar na definição da taxa básica de juros (Selic). O indicador incorpora estimativas para a produção nos três setores básicos da economia, que são os serviços, a indústria e a agropecuária, além dos impostos recolhidos pelas empresas. Em julho, mais uma vez , o setor varejista puxou o crescimento. Antes divulgado por estados e por regiões, desde o início deste ano o índice passou a ser calculado com abrangência nacional.

Mercado pessimista O resultado de julho foi divulgado um dia após o Ministério da Fazenda reduzir a estimativa de crescimento do PIB para este ano, de 3% para 2%. Se a expectativa do ministro Guido Mantega se confirmar, será a menor taxa de expansão da economia brasileira desde 2009, quando o país registrou retração de 0,3%. Em 2010 e 2011, respectivamente, a economia cresceu 7,5% e 2,7%.

Sempre mais conservador que a Fazenda, o BC ainda mantém a expectativa de crescimento de 2,5% em 2012. Este número, no entanto, deverá ser revisado no final do mês, quando será divulgado o Relatório de Inflação, com novas estimativas para vários indicadores econômicos.

Antecipando-se ao governo, o mercado financeiro prevê uma evolução bem mais modesta para o PIB, em torno de 1,5%. Embora não tenham faltado medidas de estímulo, a economia está demorando mais do que o esperado para reagir. Recentemente o governo prorrogou a redução do imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) para a linha branca (geladeiras, fogões e máquinas de lavar) e também para os automóveis.

Além disso, reduziu o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) sobre empréstimos tomados pelas pessoas físicas e anunciou, na última quinta-feira, a inclusão de novos setores na política de desonerações da folha de pagamentos. Na desoneração, as empresas deixam de recolher à Previdência Social a contribuição de 20% sobre os salários, passando a repassar ao INSS um valor entre 1% e 2% do faturamento.

Os estímulos ao consumo, que vem mantendo a demanda aquecida, são acompanhados por medidas que liberam mais recursos para os financiamentos. Entre essas, por exemplo, está a redução dos depósitos compulsórios, que devem alcançar R$ 100 bilhões nos próximos meses. E, o mais importante de tudo, a queda da taxa básica de juros da economia, que saiu de 12,50% em agosto do ano passado e está hoje em 7,50%.

Mesmo com as famílias mantendo um ritmo acelerado nas compras, a indústria continua perdendo mercado para os importados e frustrando a recuperação da economia. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatatística ( IBGE) o setor vem até crescendo, mas a velocidade ainda está baixa. A produção industrial subiu 0,3% em julho e 0,2% em junho. Enquanto isso as vendas no varejo registraram alta de 1,4% em julho na comparação com o mês de junho.

Previsão mais robusta

Para o economista-chefe da Planner Prosper, Eduardo Velho, o resultado do IBC-Br reforça a previsão de um crescimento de pelo menos 0,91% no PIB oficial no terceiro trimestre. "Para agosto, estimamos que a expansão acumulada do IBC-Br em doze meses atinja 1,62%". De acordo com o economista, o aumento da produção industrial e a expectativa de taxas mais elevadas no comércio já antecipam que o indicador será novamente positivo, mas, desta vez, mais robusto.