Valor econômico, v. 20 , n. 4660 , 03/01/2018. Brasil, p. A2

 

Exportação cresce 9,6% em 2018 e marca ampliação do domínio chinês

Marta Watanabe

03/01/2019

 

 

 

A balança comercial terminou 2018 com superávit de US$ 58,3 bilhões, resultado considerado robusto por analistas, apesar da redução de 13,3% em relação ao ano anterior. O fortalecimento da China como principal parceiro do Brasil, resultado do conflito comercial protagonizado entre o país asiático e os Estados Unidos, foi um dos fatores que marcaram a exportação brasileira de produtos básicos no ano passado. Ao mesmo tempo, a piora da crise econômica na Argentina fez despencar a venda de manufaturados ao país vizinho.

Tanto o conflito sino-americano quanto a economia da Argentina podem trazer novos impactos em 2019. Tudo depende do resultado da trégua de 90 dias anunciada no início de dezembro entre americanos e chineses e da evolução da economia do país vizinho. Para este ano, a cogitada mudança da embaixada brasileira para Jerusalém sob o governo do presidente Jair Bolsonaro é outro fator que pode afetar a balança, com possível redução dos embarques aos países árabes. Ainda há para 2019 receio de efeitos das declarações de Bolsonaro contra suposto domínio dos chineses em importantes setores da economia.

As preocupações relacionadas às declarações de Bolsonaro sobre a China estão mais direcionadas aos investimentos diretos no Brasil, diz Welber Barral, ex-secretário de Comércio Exterior e sócio da Barral M Jorge. Para ele, o tamanho do impasse efetivamente gerado ficará mais claro quando houver retomada das concessões e privatizações brasileiras.

Para Barral, um efeito de redução de exportações para a China já seria mais difícil, porque os embarques brasileiros para o país asiáticos são predominantemente de produtos básicos, como soja e minério de ferro. São itens, explica, para os quais há poucos fornecedores mundiais para atender ao tamanho da demanda chinesa, situação que se agrava para o país asiático com o conflito comercial com os Estados Unidos.

"Em relação a Jerusalém, há manifestações claras por parte de representantes de países árabes de insatisfação em relação a alguma mudança nesse sentido", diz Barral. Isso, avalia, indica risco grande de redução das exportações brasileiras para esses países. Mas o impacto depende de o reconhecimento de Jerusalém como capital de Israel ser concretizado.

O superávit do ano passado foi resultado de exportações de US$ 239,5 bilhões e de importações de US$ 181,2 bilhões. No ano passado o comércio exterior foi marcado por uma elevação muito maior das importações, com alta de 19,7% em relação a 2017, do que dos embarques, que cresceram 9,6%, sempre na média diária. Os dados foram divulgados ontem pela Secretaria de Comércio Exterior (Secex), do Ministério da Economia, que passa a concentrar a divulgação das estatísticas oficiais da área.

Com desvio de comércio, principalmente de soja, resultante do conflito comercial entre Estados Unidos e China, o pais asiático avançou sua fatia nas exportações brasileiras de 23% em 2017 para 27,8% em 2018. A exportação para os chineses somou US$ 66,6 bilhões no ano passado. O número inclui os embarques para Hong Kong e Macau.

As vendas aos chineses cresceram 32,2% em 2018, na comparação com o ano anterior, numa variação bem acima dos 9,6% de alta nos embarques totais do Brasil, sempre no critério da média diária. Com o crescimento de exportações rumo à maior economia asiática, os básicos avançaram na exportação total brasileira no decorrer de 2018 e fecharam o ano representando quase metade dos embarques. A fatia dos básicos subiu de 46,4% em 2017 para 49,6% em 2018. As exportações desse tipo de produto somaram US$ 118,9 bilhões no ano passado. A venda de produtos básicos ao exterior foi puxada por soja em grão, com alta de 28,9% em 2018, contra o ano anterior. O embarque de petróleo cresceu 48% no mesmo período.

As exportações brasileiras aos EUA somaram US$ 28,8 bilhões no ano passado, com aumento de 6,6% em 2018, contra o ano anterior. A fatia dos americanos no total dos embarques ficou praticamente estável no período, com participação de 12,3% em 2017 e de 12% em 2018.

O destino mais importante que perdeu fatia na exportação brasileira foi a Argentina. As vendas ao país vizinho somaram US$ US$ 15 bilhões no ano passado, com recuo de 15,5% em relação a 2017. A participação dos argentinos nos embarques brasileiros caiu de 8,1% para 6,2% no período. Com isso, a fatia do Mercosul caiu de 10,4% em 2017 para 8,7% no ano passado. Trata-se da menor fatia do bloco em 15 anos. Em 2003, o Mercosul deteve 7,8% da exportação brasileira.