Valor econômico, v.19 , n.4661 , 04/01/2019. Política, p. A6

 

Bolsonaro afirma que se tiver 'clima' vai propor fim da Justiça do Trabalho

Cristian Klein

 

 

 

 

Cristiane Agostine

04/01/2019

 

O presidente Jair Bolsonaro afirmou ontem, em entrevista ao SBT, que poderá acabar com a Justiça do Trabalho e repetiu que o país tem excesso de direitos trabalhistas. O presidente afirmou que pretende "facilitar a vida de quem produz no Brasil". "O Brasil é o país dos direitos em excesso, mas faltam empregos. Olha os Estados Unidos, quase não têm direito trabalhista nenhum. Não adianta ter direito e não ter emprego, trabalho. A ideia é aprofundar mais ainda a reforma trabalhista", disse na entrevista. "Qual país do mundo que tem [Justiça do Trabalho]? Tem que ser Justiça comum", afirmou.

Bolsonaro afirmou que "até um ano e meio atrás no Brasil eram em torno de 4 milhões de ações trabalhistas por ano". "Temos mais ações trabalhistas do que o mundo todo junto. Então algo está errado", criticou. "É excesso de proteção", disse, comparando em seguida a um casamento, que pode desandar se houver "ciúme exacerbardo" de um dos lados. O presidente disse que se houver "clima" enviará ao Legislativo a proposta de acabar com a Justiça do Trabalho. "Isso a gente poderia até fazer. Está sendo estudado. Em havendo clima nós poderemos discutir essa proposta e mandar para frente. A mão de obra no Brasil é muito cara. O empregado ganha pouco, mas a mão de obra é cara. É pouco para quem recebe e muito para quem paga. Alguém ganha R$ 1 mil e o patrão está gastando na verdade R$ 2 mil", disse.

Durante a entrevista, Bolsonaro descartou a volta da CPMF. "Queremos a fusão de impostos e a simplificação", disse o presidente. Bolsonaro falou que o "imposto único seria bem-vindo, mas seria para longo prazo".

Bolsonaro afirmou ainda que poderá discutir no futuro a instalação de uma base militar dos Estados Unidos no Brasil. Segundo o presidente, a "questão física" da base americana no Brasil "pode ser simbólica". "Hoje em dia o poderio das forças armadas americanas, chinesa, soviética alcança o mundo todo independente de base", afirmou. Mas ponderou: "De acordo com o que puder vir a acontecer no mundo, quem sabe você tenha que discutir essa questão no futuro". O presidente afirmou que pretende visitar o presidente americano Donald Trump em março, mas a visita ainda não está acertada.

Bolsonaro reiterou a versão de que o atentado que sofreu em setembro não foi um ato isolado. Ele disse esperar que Adélio Bispo, que lhe deu uma facada na barriga, confesse que não agiu sozinho. Então candidato, Bolsonaro foi esfaqueado no dia 6 de setembro e foi submetido a duas cirurgias. No fim do mês, Bolsonaro deve operar para retirar a bolsa de colostomia, provavelmente no dia 28.

O presidente mencionou ainda que deve editar um decreto para facilitar não só a posse como o porte de arma. Ao falar sobre a proposta de prisão depois da condenação em segunda instância, Bolsonaro disse defender a medida e afirmou que pretende aprovar a proposta no Congresso. Sobre o escândalo da movimentação financeira atípica de Fabrício Queiroz, ex-assessor parlamentar de seu filho, senador eleito Flávio Bolsonaro (PSL-RJ), o presidente disse que "ele que responda por seus atos": "Não tenho nada a ver com essa história. Se ele fez algo de errado, que pague a conta".