Título: Queiroga, o homem forte do bicheiro
Autor: Valadares , João
Fonte: Correio Braziliense, 16/09/2012, Política, p. 2

Na hierarquia da organização criminosa chefiada por Carlinhos Cachoeira, José Olímpio de Queiroga Neto era um dos homens que gozavam de maior prestígio com o contraventor. Membro forte do grupo, o bicheiro confiou a ele todo o gerenciamento das casas de jogos de azar, instaladas principalmente nas cidades do Entorno. Além de organizar a operacionalização do esquema, também era responsável por cuidar dos investimentos do patrão. Na região administrativa de Santa Maria, é conhecido por possuir terrenos "até onde a vista alcança".

Gravações da Polícia Federal autorizadas pela Justiça revelaram que Queiroga foi o primeiro do grupo a alertar Cachoeira sobre o desencadeamento da Operação Monte Carlo. Vinte e um dias depois do aviso, os integrantes da quadrilha foram presos. Ele acreditava que o sistema de rádio Nextel, utilizado pelos membros do grupo, não poderia ser grampeado pelos agentes da Polícia Federal.

Em 13 de junho, o juiz Tourinho Neto, do Tribunal Regional Federal da 1ª Região, determinou a liberdade de Queiroga. Na ocasião, os advogados argumentaram que a soltura não representaria a continuidade da prática criminosa. O irmão Raimundo Washington de Souza Queiroga, também preso durante a operação da Polícia Federal, havia sido solto dois meses antes.

O gerente de Cachoeira está em liberdade. No entanto, é obrigado a comparecer mensalmente à 11ª Vara da Seção Judiciária de Goiás, não pode deixar o Distrito Federal ou o país sem autorização da Justiça e também é proibido de manter qualquer contato com os outros denunciados no processo. Ao receber o habeas corpus, o braço direito de Cachoeira teve o passaporte confiscado.

Drible na Justiça De acordo com a Polícia Federal, Queiorga é responsável por várias empresas laranjas do grupo de Cachoeira. Para driblar a Justiça, os empreendimentos são registrados em nomes de parentes. O filho Diego Wanilton da Silva Queiroga, por exeempo, tem seis empresas: MZ Construtora Ltda., Calltech Combustíveis e Serviços, Lince Máquinas e Equipamentos, Riacho Conveniências e Comércio, Emprodata Administração de Imóveis e Informática e, por último, Instalações e Reformas Alvorada.

O Correio tentou diversas vezes entrar em contato com o advogado Leonardo Gagno, responsável pela defesa de José Olímpio Queiroga Neto e do irmão Raimundo Washington de Souza Queiroga. O defensor não atendeu às ligações nem retornou os recados deixados na caixa-postal do celular.

Em 30 de maio, Queiroga compareceu à Comissão Parlamentar de Inquérito que investiga as relações de Cachoeira e integrantes da organização criminosa com políticos e agentes públicos. Ao ser questionado pelo presidente da CPI, senador Vital do Rêgo (PMDB-PB), preferiu ficar em silêncio e foi dispensado. No mesmo dia, compareceram — e também ficaram calados — os integrantes da quadrilha Lenine Araújo de Souza e Gleyb Ferreira da Cruz.

Memória Ação contra a jogatina A Operação Monte Carlo, desencadeada pela Polícia Federal em 29 de fevereiro, prendeu 28 integrantes da quadrilha do bicheiro Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, em Brasília e em Goiânia. A ação, organizada para desarticular a organização criminosa que explorava jogos de azar e contava com o apoio de policiais e políticos, originou a instalação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) no Congresso Nacional.

O aprofundamento das investigações levaram o ex-senador Demóstenes Torres (ex-DEM-GO) a ser cassado em plenário em 11 de julho por quebra de decoro parlamentar. Interceptações telefônicas realizadas com autorização da Justiça flagraram o ex-parlamentar, em diversas oportunidades, colocando o mandato a serviço do crime organizado. Em diálogos travados com Cachoeira, o político goiano chegou a alertá-lo sobre possíveis operações da Polícia Federal em cidades do Entorno.

Na CPI, as investigações apontaram para a participação da empreiteira Delta em relações criminosas com o bicheiro. Cachoeira, segundo os trabalhos investigativos, seria sócio oculto da empreiteira.

Os integrantes da organização criminosa convocados para prestar depoimento na CPI fizeram um pacto de silêncio. Munidos de habeas corpus, concedidos pelo Supremo Tribunal Federal (STF), alegaram o direito constitucional de não produzir provas contra si mesmos e não contribuíram com as investigações.

O único foragido do grupo é Geovani Pereira da Silva, apontado pela Polícia Federal como o contador da quadrilha. Recentemente, o Ministério Público Federal recebeu informações de que ele passou por três estados nos últimos cinco meses: Bahia, Goiás e Rio de Janeiro. (JV)