Valor econômico, v.19 , n. 4662 , 05/01/2019. Opinião, p.A8

 

O reposicionamento estratégico da Petrobras

Rodrigo Leão

05/01/2019

 

 

No último dia 05 de dezembro, a Petrobras divulgou o seu Plano de Negócio e Gestão (PNG) para o período 2019-2023. O documento encontra um mercado nacional de petróleo em transformação que, nos próximos anos, deve ser marcado pelo forte aumento da concorrência interna e maior exposição à economia internacional.

Atualmente, a Petrobras detém cerca de 72% da produção do petróleo nacional, quase 100% do refino nacional e mais de 20% da distribuição. No entanto, nos próximos anos, cada um desses segmentos passará por mudanças relevantes com uma crescente participação de novos atores no setor.

Em primeiro lugar, no upstream, os resultados dos leilões do pré-sal, realizados até o momento, asseguraram à Petrobras um volume menor de reservas de petróleo, aproximadamente 45%. Em segundo lugar, no downstream, os novos operadores já têm sinalizado que ingressarão de forma integrada no mercado nacional de petróleo, isto é, sua atuação ocorrerá também no refino e na distribuição. A chinesa CNPC, por exemplo, por meio de sua subsidiária PetroChina recentemente adquiriu 30% da TT Work, empresa brasileira dona da distribuidora Petronac, e já demostrou interesse em investir em refinaria no estado do Maranhão.

Outras transformações neste mesmo sentido devem ocorrer, tornando o ambiente competitivo mais acirrado no curto e médio prazo. Esse cenário exige um reposicionamento da petrolífera brasileira, caso ela opte por preservar sua posição no mercado brasileiro.

O plano lançado em dezembro passado aponta algumas diretrizes importantes que indicam tal reposicionamento.

Primeiro, a Petrobras retomou a expansão dos investimentos em upstream a fim de acelerar suas atividades de exploração na camada do pré-sal. Após a forte redução dos últimos anos (cerca de US$ 20 bilhões entre os três últimos PNGs), os investimentos projetados para os cinco anos seguintes devem crescer quase 15%, saindo de US$ 60,3 bilhões para US$ 68,8 bilhões. No entanto, tais investimentos não se limitam à camada do pré-sal, uma vez que os recursos destinados na área do pós-sal apresentaram maior crescimento relativo (cerca de 20%), em função do aumento de US$ 25,3 bilhões para US$ 30,3 bilhões, cerca de 70% apenas na Bacia de Campos.

A recente venda das regiões mais maduras, como Pargo, Carapeba e Vermelho, localizados em águas rasas na costa do estado do Rio de Janeiro, indica que a Petrobras deve concentrar esses investimentos exploratórios nos campos mais novos e com maior capacidade de produção. Dos 40 campos produtores, sete - os maiores deles, Roncador, Marlim Sul e Marlim - possuem mais de 50% da produção da Bacia de Campos e devem receber uma parcela significativa de investimentos principalmente na recuperação secundária de produção.

Um outro dado que reforça essa percepção é a parceria estratégica realizada com a norueguesa Equinor, uma das empresas lideres nos processos de recuperação secundária em áreas offshore. Essa parceria também pode apoiar a entrada da Petrobras no segmento de renováveis, principalmente em energia eólica offshore, no qual a petrolífera norueguesa também tem uma atuação importante.

A retomada de atividades típicas de empresa de energia, como os novos investimentos em petroquímica e em renováveis, como a própria energia eólica offshore, ainda que de forma tímida (representa somente 0,8% dos investimentos globais do PNG enquanto em outras operadoras chegam a representar cerca de 3%), é outra diretriz estratégica que se destaca no novo PNG da Petrobras.

De forma geral, o aumento das projeções de investimentos da Petrobras em cerca de 13% indica que a empresa julga necessária a aceleração de suas atividades, pelo menos, no upstream. Isso porque, no dowstream, a estratégia apontada é oposta a essa observada na área de exploração e produção.

Em primeiro lugar, a Petrobras sinaliza uma redução da sua participação no refino (de 100% para 60% do mercado nacional) e manutenção dos investimentos no patamar atual (entre US$ 12 e US$ 13 bilhões nos últimos três PNG). E, em segundo lugar, não há previsão de novos investimentos em capacidade de refino, com exceção da conclusão do segundo trem da RNEST.

Rodrigo Leão é Mestre em desenvolvimento econômico (IE/Unicamp) e ex-membro do Conselho de Administração das Indústrias Romi. Atualmente, é um dos diretores do Instituto de Estudos Estratégicos de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (Ineep) e pesquisador visitante do Núcleo de Estudos Conjunturais da UFBA.