Valor econômico, v.19, n.4663, 08/01/2019. Política, p. A8

 

Presidente do Ibama antecipa saída após questionamento 

Isadora Peron 

Cristiano Zaia 

08/01/2019

 

 

A presidente do Ibama, Suely Araújo, pediu ontem exoneração do cargo após um contrato para aluguel de veículos do órgão ser questionado publicamente pelo ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, e pelo próprio presidente Jair Bolsonaro.

Ao pedir para deixar o cargo, porém, ela não comentou o desentendimento e disse apenas que, como o procurador da União Eduardo Fortunato Bim já foi indicado para comandar o órgão, a sua saída era "pertinente".

"Considerando que a indicação do futuro presidente do Ibama, sr. Eduardo Bim, já foi amplamente divulgada na imprensa e internamente na Instituição ainda em 2018, antes mesmo do início do novo governo, entendo pertinente o meu afastamento do cargo permitindo assim que a nova gestão assuma a condução dos processos internos desta Autarquia", diz o texto.

Para o ministro do Meio Ambiente, o pedido de demissão de Suely cumpriu uma formalidade e apenas se antecipou à já anunciada troca de cargo. O ministro informou que o nome do procurador da União indicado para o posto ainda precisa passar pela validação da Casa Civil, mas ele acredita que até amanhã já saia a nomeação do novo presidente do órgão.

No domingo, um contrato fechado pela atual gestão do Ibama foi alvo de uma postagem de Salles publicada no Twitter. Ele questionou o valor pago pelo aluguel de veículos no órgão, no total de R$ 28,7 milhões.

Suely assumiu o cargo na gestão do ex-presidente Michel Temer (MDB) e estava aguardando para transmitir o posto para o sucessor, quando o novo ministro do Meio Ambiente fez a postagem em sua conta do Twitter: "Quase 30 milhões de reais em aluguel de carros, só para o Ibama". A postagem em seguida foi republicada por Bolsonaro.

Salles afirmou na mesma rede social que "o valor elevado [do contrato] também foi questionado pelo TCU desde abril e, portanto, não precisava ser assinado a dez dias da troca de governo".

Bolsonaro replicou a postagem e acrescentou: "Estamos em ritmo acelerado, desmontando rapidamente montanhas de irregularidades e situações anormais que estão sendo e serão comprovadas e expostas. A certeza é: havia todo um sistema formado para principalmente violentar financeiramente o brasileiro sem a menor preocupação!". Ele, no entanto, apagou o tuíte em seguida.

No próprio domingo, Suely respondeu em nota que a acusação era "sem fundamento" e evidenciava "completo desconhecimento da magnitude" do órgão. Ela afirmou que o valor correspondia ao total gasto pelo órgão com aluguel de 393 camionetes "adaptadas para atividades de fiscalização, combate a incêndios florestais, emergências ambientais, ações de inteligência, vistorias técnicas etc" e que o contrato valia para as 27 unidades da Federação, incluindo os gastos com "combustível, manutenção e seguro, com substituição [dos veículos] a cada dois anos".

Suely foi nomeada em 2016 e chegou ao Ibama por indicação do então ministro do Meio Ambiente, Sarney Filho. Antes, teve uma longa carreira como consultora na Câmara dos Deputados, onde atuava desde 1991.