Valor econômico, v.19 , n.4667 , 12/01/2019. Especial, p. A12

 

Idoso tem mais chance de conseguir emprego que jovem, diz estudo

 

 

 

Bruno Villas Bôas

12/01/2019

 

 

A probabilidade de idosos conseguirem um emprego é maior do que jovens ou mesmo adultos na faixa dos 45 aos 50 anos. Isso seria verdade mesmo quando as estatísticas são ampliadas para absorver os mais velhos em situação de desalento - ou seja, que desistiram de procurar emprego por acreditar que não encontrariam um.

A conclusão é de um trabalho do Núcleo de Estudos e Pesquisas da Consultoria Legislativa do Senado Federal e contradiz um dos argumentos contrários à mudança da idade mínima para aposentadoria na esperada reforma da Previdência: o de que idosos têm menor empregabilidade do que demais idades.

Segundo o estudo, a taxa de desemprego ampliada (que incorpora os desalentados) é decrescente no país em função da idade. Para o grupo mais jovem, de 15 a 19 anos de idade, a taxa de desemprego é de 43,6% para homens e 55,1% para mulheres. Para o grupo mais velho, de 60 a 65 anos, a taxa é de 9,3% para homens e 10% para mulheres.

"A probabilidade marginal de estar desempregado é decrescente para mulheres até os 65 anos, enquanto, para homens, a probabilidade decresce até os 50 anos, tornando a crescer posteriormente", concluiu o estudo, acrescentando que, para os homens, a probabilidade volta a crescer apenas marginalmente a partir dos 50.

A incorporação dos "desalentados" é importante na análise porque, em tese, o desemprego menor entre idosos poderia ser explicado pela desistência de procurar trabalho. Na metodologia do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que segue padrões internacionais de pesquisa, quem efetivamente não procurou um posto de trabalho não é desempregado.

"Caso aceitemos o que aqui foi encontrado, então, concluímos que a grande dificuldade de se arranjar emprego é na fase da juventude, quando ainda se dispõe de pouca experiência no mercado de trabalho", avaliaram os pesquisadores Pedro Fernando Nery, Gabriel Nemer Tenoury e Claudio Shikida, que assinam o estudo.

A reforma da Previdência foi um dos temais centrais das eleições. No início do ano, o presidente Jair Bolsonaro (PSL) defendeu a idade mínima de 57 anos para a aposentadoria de mulheres e de 62 anos para homens. A proposta discutida pela equipe econômica deve estar na mesa do presidente nesta semana.

O estudo comparou ainda as idades de aposentadoria nos países da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE) com a idade de aposentadoria por tempo de contribuição no Brasil, considerando indivíduos que começaram a trabalhar aos 20 anos. Por esse critério, os brasileiros homens contribuem até 55 anos de idade, e as mulheres, até 50 anos.

Num extremo desse levantamento, países como Noruega e Islândia têm idades de referência para aposentadoria de 67 anos, sem diferenciação por sexo. No outro extremo, sem considerar o Brasil, a menor idade de aposentadoria para mulheres se encontra na Turquia: 58 anos. Para homens, na Eslovênia, na Turquia e em Luxemburgo: 60 anos.

Já países como Espanha, México, Chile, Japão, Bélgica e Canadá têm idades mínimas de 65 anos, para ambos os sexos. No caso do Brasil, o trabalho dos técnicos foi realizado a partir da base de dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua, do IBGE, de 2017.

Ao identificar que o desemprego é maior entre jovens, os pesquisadores também buscaram reunir no estudo as políticas de empregos para esse público na União Europeia. Entre as iniciativas, estão serviços de intermediação de mão de obra; subsídios às empresas que contratarem ou treinarem jovens; e programas de emprego público.

O levantamento aponta que, caso a experiência europeia fosse adotada no Brasil, ela passaria por reforma do ensino médio; subsídios a empresas que contratem jovens ou desoneração da folha, condicionantes para recebimento do seguro-desemprego ou Bolsa Família; fortalecimento do sistema de intermediação de mão de obra (Sine); e salário mínimo menor.