Correio braziliense, n. 20440, 08/05/2019. Opinião, p. 11

 

O novo momento do turismo no Brasil

Leônidas Oliveira

08/05/2019

 

 

Com o término do pleito eleitoral de outubro, que elegeu Jair Bolsonaro como presidente da República, o turismo brasileiro se viu, mais uma vez, diante de uma encruzilhada histórica. Um momento crucial na tomada de decisão que definiria qual caminho o setor iria trilhar nos próximos quatro anos. Hoje, em plena celebração do Dia Nacional do Turismo, é notório que o governo escolheu ajustar as velas rumo à rota da abertura internacional e do desenvolvimento econômico ancorados no setor de turismo, em vez de navegar contra o vento.

A visão do governo de uma economia liberal, com a internacionalização do país e a melhoria do ambiente de negócios, requer medidas relacionadas diretamente à atividade turística. A nova realidade perpassa por um tema ausente nas últimas estratégias de desenvolvimento desse setor — vontade política.

A priorização do turismo e a constante menção ao potencial do setor nos discursos do presidente da República, desde a primeira missão oficial no exterior, em Davos, são emblemáticas. O turismo, pela primeira vez, está na ordem do dia da pauta política e econômica do Brasil.

Os números mundiais do setor atestam a necessidade de priorização. Segundo dados do Conselho Mundial de Viagens e Turismo (WTTC), em 2018, o impacto do turismo gerou uma participação de US$ 8,8 trilhões no PIB mundial (10,4%), alta de 3,9%, superior à expansão da economia global (3,2%). Além disso, o setor é responsável por 319 milhões de empregos — um em cada 10 postos de trabalho no planeta.

Não se trata apenas de retórica, mas de ações práticas. A partir de janeiro, o setor acumulou conquistas com o atendimento de demandas antigas da cadeia produtiva de turismo, algumas de mais de 15 anos, como a isenção de visto para quatro mercados estratégicos – Estados Unidos, Japão, Austrália e Canadá.

O acervo da coleção de reivindicações urgentes do trade turístico cresceu ainda mais com a atualização de 118 artigos da Lei Geral do Turismo, com a abertura em até 100% do capital estrangeiro nas empresas aéreas nacionais e com a criação da Política Nacional de Gestão Turística do Patrimônio Mundial Natural e Cultural. Todos esses avanços ocorreram nos primeiros 100 — dias da nova administração.

O pacote de mudanças estruturantes continua. Para que o vasto potencial do Brasil no turismo seja maximizado e traga resultados econômicos, uma série de mudanças combinadas são inevitáveis. O próximo passo crucial está ligado à divulgação de toda a vocação do Brasil para o turismo no exterior —  a transformação da Embratur em agência.

A criação da Nova Embratur, alinhada às melhores práticas globais de promoção turística, é fundamental para mudar o patamar do turismo brasileiro em um mercado cada vez mais competitivo. De 2010 até 2018 ,foram investidos US$ 390 milhões, com base no Plano de Marketing Aquarela, porém o patamar de 6 milhões de turistas internacionais em média se manteve, sem crescimento expressivo. A meta da Embratur, junto com o Ministério do Turismo, é dobrar o número de visitantes, chegando a 12 milhões de turistas internacionais até 2022.

A modernização da Embratur, por meio da transformação em agência, é a saída para uma atuação eficaz com a inserção da promoção dos ativos e das vantagens competitivas do turismo brasileiro no meio digital. Os avanços tecnológicos promoveram uma revolução no mercado de viagens e acompanhar tais transformações é questão de sobrevivência.

O novo modelo de gestão é mais flexível, permite parcerias com a iniciativa privada, e a aproximação entre o público e o privado será responsável pela redução do hiato no quesito investimentos em relação aos concorrentes.

Enquanto o orçamento da Embratur para promoção do Brasil no exterior este ano é de US$ 8 milhões, os vizinhos sul-americanos, como Colômbia, Peru e Argentina, aportam recursos da ordem de US$ 100 milhões, US$ 95 milhões e US$ 80 milhões, respectivamente. Essa disparidade faz com que esses países, antes distantes, já sejam vistos no retrovisor em relação à entrada de turistas estrangeiros.

O fato alentador é que o Brasil retomou o controle do volante e não anda mais na contramão, ao definir o turismo como prioridade e uma indústria capaz de gerar grandes resultados econômicos e sociais, com geração de emprego e renda.

Diante de todas as circunstâncias expostas neste artigo, é apropriado dizer que, de fato, o turismo brasileiro vive um novo momento. Pela primeira vez em muitos anos, o Brasil tem motivos factíveis para comemorar o Dia Nacional do Turismo.