Correio braziliense, n. 20440, 08/05/2019. Mundo, p. 12

 

"Maduro deve partir"

08/05/2019

 

 

Venezuela » Vice-presidente dos Estados Unidos promete alívio de sanções impostas a assessores que abandonarem o regime de Nicolás Maduro e anuncia o envio de navio-hospital à América do Sul. Assembleia Constituinte retira a imunidade de sete parlamentares

Os Estados Unidos intensificaram a pressão sobre o presidente Nicolás Maduro e prometeram aliviar sanções contra as autoridades que decidirem abandonar o regime venezuelano. “Os EUA considerarão o alívio de sanções para todos aqueles que derem um passo adiante, que defenderem a Constituição e que apoiarem o Estado de direito”, declarou o vice-presidente norte-americano, Mike Pence, durante a Conferência Washington sobre as Américas, na sede do Departamento de Estado. O primeiro beneficiado pela medida foi o general Manuel Cristopher Figueroa, ex-chefe do Serviço Bolivariano de Inteligência Nacional (Sebin) que rompeu com o Palácio de Miraflores. Todas as sanções impostas contra ele foram suspensas.

Pence classificou a situação na Venezuela de “uma batalha entre a ditadura e a democracia”. “Nicolás Maduro é um ditador sem direito legítimo ao poder, e Nicolás Maduro deve partir”, afirmou. Por sua vez, o secretário de Defesa interino, Patrick Shanahan, recebeu a vice-presidente colombiana, Marta Lucía Ramírez, e exortou o líder venezuelano a renunciar.

Em Caracas, o Tribunal Supremo de Justiça (TSJ) acusou seis deputados da Assembleia Nacional, controlada pela oposição, de “traição à Pátria, conspiração, instigação à insurreição, rebelião civil, conspiração para delinquir, usurpação de funções e instigação pública à desobediência das leis e ódio continuado” — os mesmos crimes imputados a Edgar Zambrano, vice-presidente do Parlamento, na semana passada.

A Assembleia Nacional Constituinte (ANC), governista, atendeu ao pedido do TSJ e retirou a imunidade dos deputados Henry Ramos Allup, Luis Florido, Americo De Grazia, Mariella Magallanes, Richard Blanco, Simón Calzadilla e Andrés Velásquez. “O que está vindo? Julgamento. Estamos fazendo a coisa certa”, anunciou Diosdado Cabello, presidente da Constituinte e número dois do chavismo, ao sublinhar que os congressistas “participaram ativamente” da tentativa de levante militar liderada pelo líder autoproclamado da Venezuela, Juan Guaidó.

Pouco antes da decisão da ANC, Guaidó disse que o Parlamento alternativo não se importa com o povo. “A última vez que estiveram em sessão foi para retirar uma imunidade. Hoje (ontem), voltaram a se reunir para retirar mais imunidades”, comentou. O Correio tentou entrar em contato com Americo, Mariella e Blanco, mas não obteve resposta até o fechamento desta edição.

Missão humanitária

Pence anunciou que os EUA enviarão ao Caribe e às Américas Central e do Sul, no próximo mês, o USNS Comfort. O navio-hospital realizará uma missão humanitária com duração de seis meses focada na crise humanitária venezuelana. “O pessoal militar e médico dos Estados Unidos, trabalhando ao lado de seus pares em toda a região, estará lá para fornecer assistência médica às comunidades necessitadas e para ajudar a aliviar países sobrecarregados pelo afluxo do povo sofredor da Venezuela”, explicou.

Em seu pronunciamento, o vice-presidente norte-americano responsabilizou Cuba pela crise. “Ninguém tem feito mais para apoiar o regime corrupto de Maduro do que os líderes comunistas de Cuba. Por quase duas décadas, Havana enviou milhares de professores e engenheiros cubanos à Venezuela para apoiar um regime fracassado. Agentes cubanos controlam as alavancas do poder em muitas agências governamentais, especialmente os serviços militares e de inteligência”, acrescentou Pence. O embaixador Rolando Antonio Gómez González, encarregado de negócios da Embaixada de Cuba no Brasil, rejeitou categoricamente tais acusações.

Prisões

A organização não governamental Foro Penal Venezolano denunciou que mais de 2 mil pessoas foram detidas no país em 2019, a maioria durante protestos contra o governo. “De 1º de janeiro até maio de 2019 foram registradas 2.014 detenções, basicamente de pessoas que protestam”, afirmou o diretor Alfredo Romero. Segundo ele, 757 civis e 100 militares continuam presos, acusados de conspirar contra o regime. De acordo com a entidade, 338 pessoas foram levadas pela polícia depois da tentativa de levante militar do último dia 30. “Desse total, estão privados de liberdade 82 venezuelanos”, completou Romero.

Guarda Nacional Bolivariana impede entrada de jornalistas na Assembleia Nacional

Militares da Guarda Nacional Bolivariana (GNB) proibiram, ontem, o acesso de jornalistas ao prédio da Assembleia Nacional. Os parlamentares debateram dois pontos:  reincorporação da Venezuela ao Tratado Interamericano de Assistência Recíproca (Tiar), uma aliança militar panamericana formada por 15 países do continente, entre eles Estados Unidos e Brasil; e o projeto de “acordo de rejeição à perda de imunidade constitucional contra deputados da legítima Assembleia Nacional”.

Frase

“Para todos aqueles que continuam a oprimir o bom povo da Venezuela, saibam disto: todas as opções estão sobre a mesa”

Mike Pence, vice-presidente dos Estados Unidos

2.014

Total de detenções de manifestantes venezuelanos de 1º de janeiro até maio de 2019, segundo Alfredo Romero, diretor da ONG Foro Penal Venezolano

857

Número de pessoas que continuam presas, sendo 757 civis e 100 militares acusados de conspirar contra o governo de Nicolás Maduro