Valor econômico, v.19, n.4670, 17/01/2019. Empresas, p. B1

 

Atrasos impactam produção da Petrobras 

André Ramalho

17/01/2019

 

 

Os recordes no pré-sal não foram suficientes para impedir a Petrobras de fechar o ano passado com queda de 5,5% na produção de petróleo no Brasil. A estatal registrou em 2018 o seu primeiro ano de queda depois de quatro anos seguidos de crescimento devido, basicamente, a três fatores: atrasos de projetos no pré-sal, declínio na produção no pós-sal e os efeitos das vendas de ativos.

Ao todo, a produção média da petroleira totalizou 2,034 milhões de barris/dia em 2018, abaixo da meta de 2,1 milhões de barris/dia. Foi a primeira vez que a empresa não conseguiu alcançar sua meta, depois de três anos.

A Petrobras iniciou 2018 com meta de colocar em operação sete novas plataformas no Brasil, mas cumpriu apenas parte do programa. Quatro unidades começaram a produzir no ano passado: Cidade de Campos dos Goytacazes (no campo de Tartaruga Verde, na Bacia de Campos), P-69 (Lula), P-74 e P-75 (Búzios), no pré-sal da Bacia de Santos.

Já as plataformas P-76 (Búzios), P-67 (Lula Norte) e P-68 (Berbigão), todas no pré-sal, atrasaram e ficaram para 2019. Para se ter uma dimensão do impacto potencial dessas embarcações sobre a curva de produção da companhia, cada uma delas possui capacidade para produzir 150 mil barris/dia de petróleo - o equivalente a 7% da produção média da empresa no país.

Não à toa, a empresa espera para este ano alta de 13% na produção, para patamar recorde de 2,3 milhões de barris diários de petróleo no país. Além das três unidades previstas inicialmente para 2018 e que atrasaram, a Petrobras espera começar a operar em 2019 a P-77, também no campo de Búzios.

Outro fator que ajuda a explicar a queda da produção em 2018 é o programa de desinvestimentos da estatal. A Petrobras concluiu em janeiro do ano passado a venda de 35% do campo de Lapa, no pré-sal de Santo para a Total. Em junho, foi a vez de concluir a alienação de uma fatia de 25% no campo de Roncador (Bacia de Campos), um de seus maiores ativos de produção, para a Equinor (ex-Statoil).

As duas operações representaram, para a petroleira, corte de cerca de 60 mil barris/dia nos seus dados operacionais, tomando como base os dados da Agência Nacional de Petróleo (ANP).

O declínio da produção dos campos do pós-sal, sobretudo na Bacia de Campos, também contribuiu para a redução dos volumes de petróleo produzidos pela estatal no Brasil. A Petrobras não divulgou os dados consolidados da Bacia de Campos em 2018, mas até setembro a companhia acumulava retração de 13% no volume produzido na região. Os dados da ANP apontam para uma queda de 14% na produção nacional do pós-sal em 2018, até novembro.

Além desses três fatores, outro fator que ajuda a entender o desempenho operacional da empresa em 2018 é o número de paradas programadas para manutenção de plataformas. A Petrobras já havia divulgado, no início do ano, a intenção de aumentar a intensidade das paradas. Ao longo do ano, a companhia reportou ao mercado a parada de 14 plataformas, frente às 13 informadas em 2017.