Valor econômico, v.19, n.4670, 17/01/2019. Empresas, p. B5

 

Resultado da Embraer fica aquém da meta prevista para 2018

Rita Azevedo 

Ivan Ryngelblum 

Rodrigo Rocha 

17/01/2019

 

 

A Embraer revisou ontem uma série de projeções para os resultados de 2018 e publicou expectativas para os próximos anos em meio ao plano de conclusão do acordo com a Boeing. Por problemas nas divisões comercial e de defesa, a empresa mudou para baixo os números de lucro e receita.

Durante boa parte do dia, as ações da Embraer operaram entre as maiores perdas do Ibovespa, chegando a cair 5,75%, na mínima do dia. O papel encerrou o pregão em queda de 1,19%, a R$ 21,50.

A companhia reduziu sua projeção de lucro operacional de 2018 para US$ 200 milhões, ante estimativa anterior de US$ 270 milhões a US$ 355 milhões. A fabricante de aeronaves também revisou suas estimativas de lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda) e para as margens Ebitda e operacional.

A Embraer espera agora que o Ebitda de 2018 seja de aproximadamente US$ 480 milhões, contra meta anterior no intervalo entre US$ 540 milhões e US$ 650 milhões. A margem operacional deve ser 4%, abaixo da projeção de 5% a 6%. A margem Ebitda será de cerca de 9%, ante a estimativa de 10% a 11% apresentada anteriormente.

As receitas consolidadas da Embraer são agora estimadas em US$ 5,1 bilhões, redução em relação à faixa anterior de US$ 5,4 bilhões a US$ 5,9 bilhões.

Segundo a Embraer, as mudanças ocorreram devido à menor alavancagem operacional em função do menor volume de entregas na aviação executiva e redução nas receitas do segmento de defesa e segurança.

Na defesa, a companhia teve de lidar com problemas nos testes do cargueiro KC-390, carro-chefe da área de defesa, em maio, o que levou a Embraer a ajustar prazos e revisar a expectativa com o projeto. A companhia também incluiu perda de US$ 127 milhões relacionada ao problema.

Já nos jatos executivos, as vendas ficaram abaixo do esperado. A projeção é de 91 aeronaves do segmento em 2018, contra expectativa anterior que ficava entre 105 e 125 aviões.

"Tivemos dificuldade em vender jatos executivos a preço justo", afirmou Nelson Salgado, diretor financeiro da companhia, durante o Embraer Day, em Nova York. "Mantemos a postura de não disputar participação de mercado a qualquer preço."

A companhia também atualizou as projeções de investimento para o ano passado, para US$ 300 milhões, contra US$ 550 milhões previstos anteriormente. "Investimos menos, mas fizemos tudo o que gostaríamos de fazer", afirmou Salgado.

A empresa divulgou números para 2019, que ainda incluem a divisão comercial da companhia. A expectativa é que a transferência para a joint venture seja concluída em dezembro. A receita líquida deve finalizar o ano entre US$ 5,3 bilhões e US$ 5,7 bilhões, com margem operacional estável.

Ela informou ainda que espera entregar entre 85 e 95 jatos comerciais neste ano, de 90 a 110 jatos executivos, dez aviões militares Super Tucano e dois KC-390.

Para 2020, o primeiro ano após a conclusão do acordo com a Boeing, a Embraer estima obter receita consolidada entre US$ 2,5 bilhões e US$ 2,8 bilhões, margem operacional de 2% a 5% e fluxo de caixa livre próximo de zero. Esses resultados não incluem a fatia de 20% que permanecerá com a Embraer na joint venture.

Como destaque positivo, a companhia anunciou que espera que a "Nova Embraer" pague US$ 1,6 bilhão em dividendos especiais aos seus acionistas em 2019, em função da parceria com a Boeing. Além disso, a empresa projeta iniciar sua nova fase com posição de caixa líquido de aproximadamente US$ 1 bilhão.

A Embraer detalhou como ficam as unidades produtivas da companhia após o acordo com a Boeing. Segundo Salgado, as unidades industriais e de montagem final de São José dos Campos (SP) farão parte dos ativos da nova parceria comercial. Também serão incorporados à joint venture a unidade industrial de Évora (Portugal) e a Eleb, fábrica de trens de pouso localizada em São José dos Campos.

Na "Nova Embraer", resultante do desmembramento do braço comercial, ficarão as unidades de montagem final de Gavião Peixoto (SP), Melbourne (Austrália) e Jacksonville (EUA) e as unidades industriais de Gavião Peixoto, Eugênio de Melo (SP), Botucatu (SP) e da East, braço voltado para a fabricação de assentos para aeronaves, localizada nos Estados Unidos.