Valor econômico, v.20 , n. 4768 , 08/06/2019. Brasil, p. A3

 

Futuro do BNDESPar vira alvo de debate no governo

Fabio Graner

 

 

 

08/06/2019

 

 

Em meio às cobranças de maior velocidade na devolução de recursos do BNDES ao Tesouro Nacional, a área econômica do governo também tem discutido qual deve ser o futuro do BNDESPar, o braço de investimentos da instituição federal.

A discussão ainda é inicial, mas tem ganhado corpo, diante do senso de urgência imposto pelo ministro da Economia, Paulo Guedes, para que o banco pague mais rapidamente a União.

Uma das visões na mesa do governo é que o BNDESPar deveria deixar de existir, desfazendo-se de toda a sua carteira o mais rapidamente possível. Dessa, deriva outra discussão: se banco estatal deveria atuar na área de equity (comprando participações de capital) e, em caso de resposta positiva, por meio de qual tipo de veículo, se com um BNDESPar mais enxuto e com outro perfil de atuação (algo que também conta com defensores no governo) ou se de alguma outra forma.

"O ponto da discussão é se teremos ou não algum instrumento para incentivar algumas áreas do mercado de capitais", afirmou uma fonte, explicando que, caso o caminho seja o BNDES redesenhar essa forma de atuação, precisaria de menos dinheiro do que os atuais R$ 120 bilhões que estão na carteira desse braço da instituição.

Uma outra fonte ressalta que para a instituição atuar no mercado de capitais, com investimentos em equity, não demandaria o BNDESPar como veículo. "Acho que não deveria ser o BNDESPar", comentou. Se essa atuação do próprio BNDES se desse "por meio de fundos de mercado", o BNDESPar seria desnecessário, disse.

O Ministério da Economia pediu formalmente para o BNDES neste ano a devolução de R$ 126 bilhões aos cofres federais. Já havia R$ 26 bilhões programados para 2019 devido à renegociação feita dos contratos de empréstimos do Tesouro realizados desde o governo Lula até Dilma Rousseff, mas Paulo Guedes pediu mais R$ 100 bilhões. Até o momento, o BNDES devolveu R$ 30 bilhões adicionais ao que já estava programado.

O banco ainda não apresentou ao governo um cronograma de atendimento da demanda do ministro. A postura do presidente do BNDES, Joaquim Levy, tem sido alvo de comentários críticos de interlocutores da área econômica, que enxergam espaço para devolução no caixa da instituição e ainda avaliam que o executivo não está totalmente alinhado com a estratégia de venda de ativos federais.

Por outro lado, fontes ligadas a Levy apontam que ele não pode sair se desfazendo de ações ou retornando recursos ao Tesouro sem uma criteriosa análise das condições do mercado e da boa saúde do banco. Lembram, inclusive, que o Tribunal de Contas da União (TCU) tem olhado com lupa os movimentos da instituição federal.

Nesse sentido, fontes da instituição lembram que o BNDESPar tem recentemente produzido resultados bastante positivos, que também ajudam fiscalmente o governo por meio de mecanismos como o recolhimento de impostos e a distribuição de dividendos ao Tesouro Nacional. A estimativa do BNDES é que sejam recolhidos R$ 8 bilhões em tributos no primeiro semestre, em grande medida pela valorização e venda de ativos do BNDESPar.

Somente no primeiro trimestre, o resultado positivo decorrente de participações societárias do sistema BNDES foi de R$ 12,5 bilhões, com crescimento de mais de 1.000% sobre igual período do ano passado. Mas na própria instituição há quem defenda zerar a carteira, mas em um processo cuidadoso, que envolva o apoio dos funcionários.

Na área econômica do governo, contudo, há uma percepção de que Levy poderia ser bem mais ágil e aproveitar para realizar lucros com a vendas volumosas de ativos que, segundo interlocutores, estariam com preços bem favoráveis, como Suzano, JBS e Fibria. "O mercado tem como absorver isso", disse uma fonte, reconhecendo que é, no entanto, preciso cuidar para que os movimentos não sejam feitos de forma a derrubar preços e gerar prejuízos ao banco e ao governo.