Título: Estímulo de US$ 40 bi por mês
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Fonte: Correio Braziliense, 14/09/2012, Economia, p. 11

Washington - Diante da persistente fraqueza da atividade econômica, o Federal Reserve (Fed), banco central norte-americano, lançou ontem mais um programa agressivo de estímulo monetário e anunciou que vai comprar US$ 40 bilhões por mês em títulos hipotecários até que as perspectivas de emprego "melhorem substancialmente" nos Estados Unidos. Equivalente a uma injeção direta de recursos na economia, a medida do comitê de política monetária da instituição gerou euforia nos mercados, que subiram acentuada-mente diante da perspectiva de aquecimento dos negócios, mas causou preocupação no governo brasileiro, que teme uma nova onda de desvalorização do dólar, prejudicial à indústria e às exportações nacionais.

O Fed não estabeleceu uma meta numérica de redução da taxa de desemprego, que atualmente está em 8,1%, patamar do qual não tem se movido, apesar de sucessivas ações tomadas pelas autoridades para incentivar o nível de atividade. "A ideia é acelerar a recuperação para ajudar a economia a começar a crescer rápido o suficiente para gerar novos empregos. É esse critério que estamos buscando" disse o presidente da instituição, Ben Bernanke.

Em uma ação adicional, que reflete como está preocupado com a saúde da economia, o Fed anunciou que não deverá aumentar a taxa básica de juros dos atuais níveis mínimos, entre zero e 0,25% ao ano, até, pelo menos, meados de 2015. Anteriormente, o horizonte para a manutenção desse patamar historicamente baixo era o fim de 2014. Além disso, se o mercado de trabalho não melhorar com a decisão anunciada ontem, a autoridade monetária avisou, em comunicado, que poderá reforçar seu arsenal de medidas, o que incluirá "compras adicionais de ativos" e a utilização de "outras ferramentas de política até que tal melhora seja atingida num contexto de estabilidade de preços".

Ao relacionar uma decisão diretamente às condições econômicas, o Fed fez uma mudança significativa na condução da política monetária, o que deve alimentar as críticas de adversários da orientação que vem sendo sei guida pela instituição. "O problema é que há uma decadência na política monetária, que já está em níveis extremos", disse afirmou William Larkin, gerente de renda fixa do Cabot Money Management em Salem, Massachusetts. Além disso, a menos de dois meses das eleições presidenciais norte-americanas, que têm no desemprego um dos principais itens de campanha, não faltaram também questionamentos sobre uma suposta motivação política da medida.

Desempenho fraco

Bernanke, contudo, assegurou que apenas a delicada situação econômica do país foi levado em conta. O crescimento dos Estados Unidos esfriou no segundo trimestre, registrando uma taxa anual de apenas 1,7%. Em agosto, as empresas criaram somente 96 mil postos de trabalho, menos que o necessário para absorver o aumento da população. Diante desse fraco desempenho, o próprio Fed reduziu ontem sua estimativa de expansão do Produto Interno Bruto (PIB) neste ano, para algo entre 1,7% e 2,0%, ante projeção anterior de 2,2% a 2,8%, feita em junho.

A aposta do Fed é que a compra de títulos hipotecários estimule, em particular, o mercado imobiliário, cujo colapso, em 2007, deu início à atual crise global Bernanke frisou ainda que a medida irá se somar à chamada Operação Twist, pela qual a instituição vende títulos de curto prazo e adquire dos bancos papéis de prazo mais longo. Juntas, as duas ações vão proporcionar uma injeção de recursos de US$ 85 bilhões por mês na economia até o fim do ano. Essas compras somam-se aos US$ 2,3 trilhões que o Fed já adquiriu em títulos do governo norte-americano e papeis relacionada ao setor imobiliário.

A despeito de o fraco nível de atividade ser predominante, nesse momento, o Fed não descuidou do objetivo de manter a inflação em 2%, salientou Bernanke.