Valor econômico, v. 19 , n. 4679 , 30/01/2019. Brasil, p. A2

 

Homicídios recuam 59% no Ceará

 

 

 

Marina Falcão

30/01/2019

 

 

 

Marcado por uma onda de violência com ataques promovidos por facções criminosas, o mês de janeiro poderá ser, paradoxalmente, o menos sangrento dos últimos sete anos no Ceará. Nos primeiros 26 dias do ano, os homicídios no Estado recuaram quase 59% em relação ao mesmo período do ano anterior, segundo dados da Secretaria de Segurança Pública e Defesa Social do Ceará, compilados pelo Valor.

César Barreira, coordenador do Laboratório de Estudos da Violência da Universidade Federal do Ceará (UFC), diz que o dado reflete a união das facções em torno de um inimigo comum: o Estado. "Fala-se em um pacto entre elas. No momento, as facções não estão mais brigando entre si. Isso explica muita coisa, pois a taxa de homicídios do Estado é muito alta devido à disputa por territórios e tráfico de drogas."

Na opinião do especialista, a queda dos assassinatos neste começo de ano também pode ser atribuída ao maior policiamento nas periferias, onde estão ocorrendo os ataques (incêndios a prédios públicos e ônibus, principalmente) coordenados pelas facções Primeiro Comando da Capital (PCC), Comando Vermelho e Guardiões do Estado (GDE) de dentro dos presídios.

Até o dia 26, foram 164 mortes violentas no Estado, contra 389 no mesmo período do ano passado (ver arte). O governo diz que não comenta dados parciais do mês, mas afirma que tem reforçado ações de policiamento ostensivo no intuito de combater atos criminosos no Estado.

"A atuação constante do efetivo nas ruas e as operações de inteligência estão tendo reflexo direto numa tendência de redução de atos criminais, como diminuição de roubos, furtos e homicídios", afirmou a Secretaria de Segurança Pública e Defesa Social.

Além da força de 29 mil homens da segurança do Estado, o Ceará conta com apoio de 400 homens da Força Nacional. Nesta semana, o ministro da Segurança, Sérgio Moro, autorizou o envio de uma força-tarefa de intervenção penitenciária. Antes disso, o governador Camilo Santana (PT) convocou 1.200 policiais da reserva, dos quais 800 atenderam ao chamado.

O governo do Ceará não está divulgando o número de ocorrências por dia. Na terça-feira, o Estado registrou o primeiro dia sem ataques criminosos desde o dia 2, segundo um levantamento do G1, que aponta 258 ocorrências até agora, nenhuma delas com vítimas.

A onda de ataques no Ceará começou depois que o governo anunciou que iria endurecer as regras nos presídios, criando uma Secretaria de Administração Penitenciária.

Ao tomar posse, o secretário da pasta, Luís Mauro Albuquerque, um policial linha-dura, afirmou que "não reconhecia as facções" e que os presos não seriam divididos por grupo criminoso nos presídios. Segundo o governo, 462 já foram presos no Estado neste mês por participação em ataques ao patrimônio público e privado.