Valor econômico, v. 20 , n. 4679 , 30/01/2019. Política, p. A6

 

Operação prende neto de Figueiredo

André Guilherme Vieira

Alvaro de Campos

Isadora Peron

Cristian Klein

30/01/2019

 

A força-tarefa Greenfield no Ministério Público Federal (MPF) em Brasília deflagrou ontem a Operação 'Circus Maximus', que investiga supostas fraudes no Banco Regional de Brasília (BRB) com prejuízos de R$ 400 milhões em investimentos nos fundos LSH e SIA, além de pagamentos de propinas em espécie de R$ 40 milhões, segundo os investigadores.

Tiveram prisão preventiva decretada 10 pessoas, entre as quais -, Paulo Renato de Oliveira Figueiredo Filho, ex-presidente do LSH Barra. Ele é neto do general João Figueiredo (1918-1999) - que presidiu o país de 1979 a 1985.

Também tiveram preventivas ordenadas Ricardo Luiz Peixoto Leal, que seria líder da suposta organização criminosa no BRB; Henrique Domingues Neto, que seria o elo do BRB com investidores e empresários; Henrique Domingues, que atuaria no BRB para aprovar investimentos do Fip LSH/Igepreve-TO; o ex-presidente do BRB, Vasco Cunha Gonçalvez - nomeado pelo governador do Espírito Santo, Renato Casagrande (PSB), para comandar o Banco do Estado do Espírito Santo (Banestes) e agora afastado; Diogo Cuoco, filho do ator Francisco Cuoco, suspeito de lavar dinheiro por meio da emissão de notas frias, entre outros.

Outros quatro investigados foram presos temporariamente.

Henrique Domingues Neto atuava como intermediário de investimentos feitos por fundos de Regimes Próprios de Previdência Social (RPPS). Ele ofereceu a Ricardo Rodrigues - sócio de Figueiredo Filho - aporte de R$ 3 milhões do Instituto de Previdência dos Servidores Públicos de Santos.

Como contrapartida, segundo o MPF, deveria haver pagamento de R$ 25 mil a Ricardo Leal, conselheiro de administração do BRB, que teria sido tesoureiro da campanha de Rodrigo Rollemberg (PSB) ao governo de Brasília em 2014, de acordo com a investigação. Rollemberg negou, em nota, que Leal tenha sido tesoureiro de sua campanha. Leal e Figueiredo influenciavam nos aportes ilícitos e distribuição de propinas, diz o MPF.

O FIP LSH também chegou a operar hotel com a bandeira Trump, do atual presidente americanos, no Rio de Janeiro. Trump retirou a marca do Rio e o empreendimento, em frente à Praia do Pepê, adotou o nome LSH. Constituído em 2016 pelos sócios Ricardo Rodrigues, Paulo Figueiredo Filho e Arthur Soares Filho, o LSH passou a ser investigado em razão de aportes feitos pelo Serpros, entidade de previdência complementar do Serviço Federal de Processamento de Dados (Serpro).

Arthur Soares Filho, que teve prisão negada pela Justiça, é chamado de "Rei Arthur". Suspeito de ligação com o esquema criminoso atribuído ao ex-governador Sérgio Cabral (MDB), ele está foragido. Segundo a Receita, o patrimônio do "Rei Arthur" passou de R$ 16,3 milhões, em 2006, para R$ 238 milhões em 2015, ano em que Cabral concluiu o segundo mandato.

A 'Circus Maximus' nasceu das delações do doleiro Lúcio Funaro e do empresário Ricardo Siqueira Rodrigues, sócio do fundo para captar dinheiro para o hotel. Outro empreendimento alvo da investigação é a construção do edifício Praça Capital, em Brasília - o caso foi revelado por delatores da Odebrecht.

Em depoimento em delação premiada à força-tarefa da Greenfield, o ex-ministro da Fazenda e da Casa Civil nos governos do PT, Antonio Palocci, acusou o ex-ministro da Previdência Carlos Gabas e Henrique Barbosa - irmão do presidente da Comissão de Valores Mobiliários, Marcelo Barbosa - de promoverem uma blindagem em órgãos de fiscalização para impedir que desvios em fundos públicos fossem detectados. As defesas de Gabas e de Henrique Barbosa têm afirmado que as afirmações de Palocci são inverídicas.

Procurado pelo Valor, o BRB disse que "a operação corre em segredo de Justiça e todas as informações são repassadas exclusivamente às autoridades policiais". A instituição afirmou ainda que "adotará todas as medidas judiciais cabíveis visando preservar o banco e suas empresas controladas".

Em fato relevante divulgado ontem, o Banestes afirmou que foi supreendido pela operação, e que o nome de Gonçalves foi aprovado pelo Banco Central. Silvio Henrique Brunoro Grillo foi designado presidente interino do Banestes.

A defesa de Diogo Cuoco disse que ele "não emitiu nenhuma nota irregular e que irá prestar todos os esclarecimentos".

Os advogados de Henrique Domingues e Henrique Domingues Neto disseram que "os decretos de prisão são ilegais, feitos com base em delações cujas mentiras e desvios de finalidade já foram escancaradamente comprovados". A defesa de Paulo Figueiredo Filho não foi localizada até o fechamento desta edição.