Correio braziliense, n. 20441, 09/05/2019. Política, p. 4

 

Guedes: sem reforma, previdência "explode"

Alessandra Azevedo

Hamilton Ferrari

09/05/2019

 

 

O ministro da Economia, Paulo Guedes, disse ontem na Comissão Especial da Câmara que discute a reforma da Previdência, que, se não for reformado, o sistema atual de aposentadorias está “condenado à explosão”. A audiência pública foi menos traumática do que a participação do ministro na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), um mês atrás. Apesar de algumas ofensas e alfinetadas durante as oito horas de sessão, ele não precisou, desta vez, defender a reforma sozinho. A base do governo, que ficou em silêncio na CCJ, resolveu reagir e mostrar que o texto tem apoio.

Mesmo com a ajuda dos aliados e dos três secretários da pasta que o acompanharam, o ministro perdeu a paciência depois de receber críticas pelo suposto envolvimento com fundos de pensão. Após quase cinco horas de sessão, ele disse ter entendido o “padrão da Casa”, que consiste em “ofensas e ataques”. “Depois de 18h, a baixaria começa”, reclamou, seguido de vaias. Antes disso, ele havia sido aplaudido, ao afirmar que “é muito fácil ser solidário levando a dívida pública, nos últimos 10 anos, de R$ 1,8 trilhão para R$ 5 trilhões, pagando juros absurdos todo ano, porque não tem coragem de enfrentar o problema de uma vez só”.

As discussões foram apartadas pelo presidente do colegiado, Marcelo Ramos (PR-AM), que precisou intervir algumas vezes. “Não vou permitir que seja criado nenhum fato político, de um lado ou de outro, para justificar encerrar a audiência”, afirmou. Ele não queria que a reunião acabasse da mesma forma que na CCJ, quando Guedes ele foi chamado de “tchutchuca” pelo deputado Zeca Dirceu (PT-PR) e abandonou a sessão.

A abordagem de Guedes não foi diferente das outras vezes em que conversou com os parlamentares. Ele definiu o sistema previdenciário atual com termos como “buraco negro que ameaça engolir a economia brasileira”, “fábrica de privilégios” e “perversa máquina de transferência de renda”. As disfunções e a insustentabilidade financeira do sistema são evidentes, na avaliação de Guedes. “Os buracos se apresentam em todas as suas modalidades”, disse. O objetivo da reforma é tornar a Previdência progressiva, tanto nas contribuições quanto ao recalibrar a trajetória de despesas futuras, “para que não prossiga essa perversa transferência de renda dos mais pobres para os mais favorecidos”.

O secretário especial de Previdência e Trabalho, Rogério Marinho, enfatizou que o sistema também é injusto, porque poucos ganham muito e muitos ganham pouco”. Além disso, com os investimentos sendo sufocados pelo gasto com Previdência?, a capacidade da União em aplicar recursos em outras áreas vai zerar em dois anos, afirmou.