Correio braziliense, n. 20447, 15/05/2019. Economia, p. 7

 

Balde de água fria no crescimento

Hamilton Ferrari

Augusto Fernandes

15/05/2019

 

 

As esperanças para a atividade econômica de 2019 foram por água abaixo. Se ainda existia expectativa de que o Produto Interno Bruto (PIB) do país poderia crescer mais de 1,5% neste ano, ela se esvaiu depois de o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgar que o setor de serviços recuou 1,7% nos três primeiros meses do ano. O resultado completou uma série de outros indicadores frustrantes para o período e reforça a percepção que será um ano perdido para o crescimento do país.

A retomada com mais tração deve ocorrer apenas em 2020, mas ainda depende de fatores do presente, como a aprovação da reforma da Previdência. O setor de serviços responde por cerca de 40% do PIB. O início do ano negativo revela que o crescimento do Brasil ficará em torno de 1% em 2019, segundo analistas. Isso porque as projeções dos economistas mostram que a atividade econômica terá um recuo no primeiro trimestre.

O próprio Banco Central (BC), em ata do Comitê de Política Monetária (Copom) divulgada ontem, reconhece a probabilidade de isso ocorrer. “Os indicadores disponíveis sugerem probabilidade relevante de que o PIB tenha recuado ligeiramente no primeiro trimestre do ano, na comparação com o trimestre anterior, após considerados os padrões sazonais”, admitiu.

O economista-chefe e sócio do Modal Mais, Álvaro Bandeira, afirmou que a economia vem desacelerando desde o fim de 2018. “Perdemos tração à espera da aprovação da reforma da Previdência. Os investidores e empresário estão aguardando para ver como a proposta vai passar no Congresso e como vai engatar a reforma tributária em sequência. Enquanto isso não acontecer, os investimentos na economia serão apenas para manutenção, o que não faz a produção melhorar”, destacou.

O varejo cresceu 0,3% no primeiro trimestre do ano, o pior resultado desde 2016, segundo o economista-chefe da Confederação Nacional do Comércio (CNC), Fábio Bentes. “O mercado de trabalho está muito ruim, com desalento recorde e subutilização da força de trabalho chegando a quase 30 milhões de pessoas. Os primeiros três meses do ano foram perdidos, do ponto de vista econômico”, ressaltou. “O segundo semestre também não deve ser animador. Os preços dos alimentos e dos combustíveis subiram bastante no primeiro trimestre e devem continuar um pouco elevados nestes meses seguintes. O dólar também subiu, ao sabor da crise internacional e dos engasgos da reforma da Previdência no Congresso”, disse.

No primeiro trimestre, além do setor de serviços, a indústria tombou 2,2%, segundo o IBGE. De acordo com o Indicador de Consumo Aparente de Bens Industriais, divulgado ontem pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), o rendimento das indústrias nacionais entre janeiro e março teve retração de 2,3% quando comparado ao mesmo período do ano passado.

“A indústria passa por um momento conturbado, muito por conta da situação da economia interna do Brasil. Nos últimos meses, essa instabilidade deteriorou o nível de confiança dos empresários. Ao mesmo tempo, as turbulências na política aumentam a incerteza dos agentes da indústria. Enquanto essas questões não tiverem solução, os empresários não terão coragem para investir ou contratar”, reconhece o técnico de planejamento e pesquisa do Ipea, Leonardo Carvalho.