O Estado de São Paulo, n. 45997, 24/09/2019. Política, p. A8

 

PF investiga se hacker preso conversou com jornalista do Intercept

Fausto Macedo

Luiz Vassallo

24/09/2019

 

 

Luiz Molição foi detido na semana passada no interior de São Paulo na segunda fase da Operação Spoofing

Detido. Luiz Molição foi preso no interior de SP, na 5ª passada

A Polícia Federal afirma ter encontrado uma conversa que indicaria o envolvimento do hacker Luiz Henrique Molição no vazamento de mensagens atribuídas ao então juiz Sérgio Moro, atual ministro da Justiça, e ao coordenador da força-tarefa Lava Jato em Curitiba, Deltan Dallagnol, e publicadas pelo site The Intercept Brasil.

Segundo os investigadores, áudio arquivado no celular de Molição mostra suposta conversa com o editor do site, Glenn Greenwald. O jornalista não é investigado no caso. Molição foi preso na quinta-feira passada, em Sertãozinho (SP), na segunda fase da Operação Spoofing.

“Chegamos à conclusão de que eles estão fazendo um jogo para tentar desmoralizar o que tá acontecendo”, afirma o hacker, em um curto diálogo. “Hã, hã”, responde o jornalista, segundo a PF. “Então, é… a gente… eu estava discutindo com o grupo… eu queria falar com você um assunto”, diz Molição.

“Analisando o perfil de instagram ‘@luiz.molicao’ foi identificado um vídeo no stories no qual seria possível ouvir a voz de Luiz Molição, que, segundo a equipe policial, aparenta ter semelhança com a voz do interlocutor do jornalista Glenn Greenwald na gravação de áudio acima mencionada”, diz a PF na representação pela prisão de Molição.

Segundo os investigadores, a conversa teria ocorrido no dia 7 de junho, e Molição faz referência ao “grupo que pegou o Telegram de várias pessoas”. “Verifica-se a existência de indícios razoáveis da participação de Luiz Henrique Molição nos fatos investigados.”

Ainda de acordo com a PF, Molição manteve contatos frequentes com o hacker Walter Delgatti Neto, o “Vermelho”, que foi preso em julho. Apontado como o líder do esquema que acessou informações de celulares de várias autoridades, Delgatti Neto confessou ter repassado dados para o The Intercept Brasil. Na ocasião, o site disse que a investigação “não muda o fato de que a Constituição garante o sigilo da fonte”.

Delgatti Neto afirmou que não cobrou contrapartidas financeiras pelas informações, mas a PF apura se houve pagamento para a obtenção e o compartilhamento de mensagens por parte do grupo de suspeitos – contas-correntes dos investigados, de acordo com relatórios sobre suas transações financeiras, apresentaram saldo incompatível com seus vencimentos, segundo as investigações.

‘Mensagem falsa’. O procurador da República Wellington Divino Marques de Oliveira apontou, em representação da segunda fase da Spoofing, indícios de que os hackers suspeitos de invadir comunicações de autoridades “fabricaram” mensagens no celular da líder do governo no Congresso, deputada Joice Hasselmann (PSL-SP).

Segundo o procurador, “foram encontradas conversas do aplicativo Telegram em que Luiz Henrique Molição instrui Walter Delgatti Neto a enviar uma nota para um jornalista através da conta da deputada federal Joice Hasselmann, sendo que, após uma breve troca de opiniões, os dois escolhem o destinatário da mensagem falsa”.

“Pelos diálogos analisados, foi possível constatar que realmente Walter Neto encaminhou para o jornalista, por meio da conta do Telegram da deputada federal, uma nota intitulada ‘O governo já deixa vazar que considera MPF como inimigo’, texto que teria sido elaborado pelo próprio Luiz Molição”, afirmou o procurador.

No mesmo dia – 27 de julho –, Joice postou um vídeo em suas redes sociais afirmando que seu aparelho celular havia sido invadido, o que, de acordo com o procurador, corrobora “a veracidade do diálogo analisado”.

As defesas dos investigados não foram localizadas.