Valor econômico, v.19 , n. 4671 , 22/01/2019. Brasil, p.A8

 

Tebet disputará com Renan indicação a presidente do Senado

 

 

 

Vandson Lima

22/01/2019

 

 

 

Líder do MDB no Senado, a senadora Simone Tebet (MS) resolveu enfrentar Renan Calheiros (AL) e disputará com ele a indicação do MDB à presidência do Senado.

Simone esteve ontem em Brasília para comunicar o presidente do MDB, Romero Jucá, que fará a disputa interna.

O comando do Poder Legislativo, que cabe ao presidente do Senado, é considerado prioridade absoluta do MDB nos próximos dois anos. A decisão de Tebet, antecipada pelo Valor PRO, altera o cenário previsto para a eleição no Senado.

Até então, Renan era visto como franco favorito. Apesar da contrariedade de alas ligadas ao presidente Jair Bolsonaro e de parte da oposição, nenhum candidato em condições de vencê-lo havia se apresentado - ainda mais com a manutenção do voto secreto para a escolha do comando da Casa. A entrada de Simone embaralha o jogo.

Primeiro, porque Renan terá de vencer a oponente em eleição dentro da bancada. Maior partido do Senado, o MDB terá na próxima legislatura 12 integrantes - pode chegar a 13 com a filiação já apalavrada de Eduardo Gomes (SD), eleito por Tocantins. Os emedebistas se reunirão em 29 de janeiro para decidir quem vai representá-los na disputa.

Depois, porque foi a crença de que pode derrotar Renan internamente e, depois, aglutinar forças tanto do governo quanto da oposição em torno de si foram justamente os motivos que levaram a senadora a colocar sua candidatura. Tasso Jereissati (PSDB-CE), por exemplo, tido até então como um possível nome para fazer frente a Renan, fez chegar aos emedebistas que, se Simone derrotar o correligionário, ele se retira do páreo e dará apoio a ela na presidência da Casa.

Renan hoje é o favorito entre os senadores mais experientes, mas sofre resistência da ala ligada a Bolsonaro e rejeição popular. Passeatas contra ele foram chamadas em algumas cidades do país no fim de semana. "Devemos absorver o recado das urnas, que clamou por renovação na política e, consequentemente, no Senado", disse Tebet ao Valor. "Coloco minha candidatura em defesa da independência, da autonomia, da soberania do Senado, que será a ponte de travessia para todas as saídas econômicas, sociais, regionais e políticas para o país", declarou.

O senador alagoano, que já presidiu o Poder Legislativo quatro vezes, conseguiu angariar apoios em frentes diversas. Renan é visto pelos pares como garantia de um Senado independente do Poder Executivo e, por outro lado, buscou a aproximação com a equipe econômica - em especial com o ministro da Economia, Paulo Guedes -para tentar diminuir resistências.

A aliados, Renan tem dito reiteradamente que não entrará em aventura: só postulará a Presidência se tiver apoio tanto dentro do MDB quanto da totalidade do Senado. O que significaria uma ampla margem, para muito além dos 41 votos dentre os 81 senadores, necessários para comandar a Casa.

Articulador hábil, Renan foi às redes sociais horas antes do anúncio de Simone Tebet e postou: "Olha, não quero ser presidente do Senado. Os alagoanos me reelegeram para ser bom senador, não presidente. Já fui várias vezes, em momentos também difíceis. A decisão caberá à bancada, e temos outros nomes".

Usando sua cota anual de impressões na gráfica do Senado, Renan compilou suas ideias recentes em um livro, de quase 500 páginas, que tem sido distribuído a parlamentares.