Correio braziliense, n. 20447, 15/05/2019. Cidades, p. 17

 

Cinco mudanças em quatro meses no GDF

Alexandre de Paula

15/05/2019

 

 

Executivo » Incompatibilidade, problemas com o Ministério Público e embates internos fazem com que o governador Ibaneis Rocha (MDB) mude cargos de chefia sensíveis à estrutura do Palácio do Buriti. A última alteração no governo ocorreu no comando da Casa Civil

Com o pedido de demissão do então secretário-chefe da Casa Civil Eumar Novacki, o governo de Ibaneis Rocha (MDB) contabiliza cinco baixas em cargos de chefia em quatro meses e meio de mandato. Além de Novacki, os comandantes do Detran, da Casa Militar, da Novacap e da Caesb deixaram a estrutura do GDF. Entre as razões estão embates, incompatibilidade e problemas com a Justiça.

No caso de Novacki, pesaram, sobretudo, a falta de poder da pasta — fundamental em outros governos — e desavenças com nomes do primeiro escalão do governo. Nos bastidores, relata-se também que ele e o chefe do Palácio do Buriti não estavam mais alinhados e que episódios em que Novacki assumiu muito protagonismo incomodaram o chefe do Executivo local.

A gota d’água para a decisão de sair do governo foi a retirada da Casa Civil da responsabilidade de publicar o Diário Oficial do DF. A tarefa era uma das atribuições centrais do órgão, uma vez que o documento traz todos os atos relevantes do governo. A função passou a ser da chefia de gabinete do governador, comandado por Kaline Gonzaga. Novacki também foi sondado para ocupar funções no governo federal, o que, diante da situação atual, colaborou, segundo membros do GDF, para a decisão final de deixar a administração local.

Ontem, o governador Ibaneis minimizou o problema e afirmou que não houve desentendimentos entre ele e o ex-comandado. “Ele pediu para sair do governo porque tem outras pretensões e está disposto a seguir outros caminhos”, justificou o emedebista. “Não existe espécie alguma de desalinho. É um amigo. A nossa relação continua a mesma. Ele é um conselheiro de muitos anos. Desde o momento em que ele aportou aqui no Distrito Federal, recebeu todo o meu carinho e vai continuar sendo um amigo”, completou.

Interinamente, o secretário de Justiça, Gustavo Rocha, chefiará a Casa Civil. Ele deve ficar no cargo até que o substituto seja escolhido. Um dos nomes mais cotados para é o de José Humberto Pires, ex-secretário de Governo de José Roberto Arruda (PR). Pires é um dos conselheiros mais ouvidos por Ibaneis.

Outra queda motivada por problemas internos na estrutura do GDF ocorreu na Casa Militar, em abril. Embates internos e desavenças causaram tumulto na organização do órgão. O primeiro nomeado para o cargo, coronel Júlio César Lima de Oliveira, era adversário da comandante-geral da PM, coronel Sheyla Sampaio, e defendia a escolha de um oficial mais antigo para a chefia da corporação.

O escolhido por Ibaneis para substituí-lo, tenente-coronel Marcus Paulo Koboldt, é da turma de formação da coronel Sheyla. “A Casa Militar foi criada para cuidar da segurança do governador. Existiam ali muitos grupos que estavam com embates diários, que eu não acho muito conveniente para quem está cuidando da minha vida pessoal e dos meus familiares”, alegou, à época, o governador.

Complicações

Problemas com o Ministério Público também motivaram a saída de integrantes do governo Ibaneis nesses primeiros meses. Na semana passada, o então diretor-geral do Detran Fabrício Moura deixou o cargo. Ele foi exonerado depois de denúncias envolvendo supostas irregularidades na contratação de serviços de manutenção de semáforos. As denúncias se tornaram alvo do Ministério Público do DF e Territórios, que abriu investigação para apurar os supostos problemas. O MP questionou, entre outras questões, por que o Detran firmou um contrato emergencial, sem licitação, se o processo de concorrência pública estava pronto. Para o lugar dele, o escolhido foi o ex-distrital e delegado aposentado da Polícia Civil Alírio Neto.

Outra baixa motivada por complicações com o Ministério Público foi a de Fernando Leite, que deixou a Presidência da Companhia de Saneamento Ambiental do DF (Caesb). Ele caiu, no fim de abril, depois de o Ministério Público pedir a suspensão da posse, o que foi acatado por decisão da juíza Acácia Regina Soares de Sá, da 5ª Vara de Fazenda Pública do DF. A condenação por irregularidades cometidas na Presidência da empresa, em governos anteriores, foi a razão para a solicitação do MP.

Em 2016, Leite foi condenado pela prática de ato de improbidade administrativa. Por isso, ficou impedido de contratar com a administração pública e teve os direitos políticos suspensos até setembro deste ano. Para o lugar dele, Ibaneis escolheu o advogado Carlos Augusto Lima Bezerra, que era diretor financeiro e comercial do órgão.

Também deixou o governo, em abril, Daclimar Azevedo, que era diretor-presidente da Novacap. Segundo Ibaneis, a empresa precisava de alterações estruturais, e a mudança necessária exigia renovação no quadro de direção. “Para isso, precisamos de pessoas que não estejam tão entranhadas numa filosofia que vem do passado”, observou, à época. “A Novacap, assim como a maior parte das empresas do governo federal, foi sendo tomada pelos servidores. Então, temos número excessivo de funções comissionadas, principalmente nas diretorias. São modificações que precisam ser feitas para que essa empresa se renove”, ponderou.

No lugar de Daclimar, entrou Cândido Teles de Araújo, ex-deputado estadual de Mato Grosso. Ele ocupava, até então, a função de diretor administrativo.