Correio braziliense, n. 20448, 16/05/2019. Política, p. 4

 

Os ataques de Bolsonaro

16/05/2019

 

 

O presidente Jair Bolsonaro chamou de “idiotas úteis” e “massa de manobra” manifestantes que organizaram, ontem, uma série de protestos contra os cortes do governo na área da Educação. Ele classificou os atos pelo Brasil como algo “natural” e disse que “a maioria ali (na manifestação) é militante”.

“Se você perguntar a fórmula da água, não sabe, não sabe nada. São uns idiotas úteis, que estão sendo usados como massa de manobra de uma minoria espertalhona que compõe o núcleo das universidades federais”, disparou Bolsonaro, em Dallas, nos Estados Unidos. Ele foi recebido por apoiadores ao chegar ao hotel onde se hospedou.

O presidente afirmou ainda que não gostaria que houvesse cortes na Educação, mas que não teve outra saída. “Na verdade, não existe corte, o que houve foi um problema que a gente pegou o Brasil destruído economicamente, com baixa nas arrecadações, afetando a previsão de quem fez o Orçamento, e, se não tiver esse contingenciamento, eu simplesmente entro contra a Lei de Responsabilidade Fiscal”, ressaltou. “Mas eu gostaria que nada fosse contingenciado, em especial na Educação.”

Bolsonaro visita Dallas em uma agenda improvisada e organizada às pressas pelo governo depois de o presidente desistir de ir à cidade de Nova York. Ele participaria do prêmio de “Personalidade do ano”, concedido pela Câmara de Comércio Brasil-Estados Unidos, mas a homenagem foi alvo de boicotes e críticas do próprio prefeito da cidade, Bill de Blasio.

Bush

Em Dallas, Bolsonaro se reuniu com o ex-presidente americano George W. Bush, com quem conversou sobre a candidatura presidencial de Cristina Kirchner na Argentina. Segundo fontes presentes no encontro, os dois também falaram de parcerias no setor de óleo e gás, formas de atrair investimentos de infraestrutura ao Brasil e como o país pode se beneficiar da guerra comercial entre China e Estados Unidos.

Ao sair da reunião, Bolsonaro afirmou que o encontro foi “bastante cordial” e que o americano deu “sinalizações muito grandes de que tem uma grande simpatia e respeito pelo Brasil”.

Segundo ele, Bush sinalizou que Bolsonaro pode achar no Texas investidores e empresários interessados no Brasil, pois estão ligados a uma agenda moral defendida pelo brasileiro. O Texas é um estado de maioria conservadora e republicana — partido de Bush e do presidente Donald Trump.

Bush estava acompanhado do seu chefe de gabinete. Na chegada, o ex-embaixador do Brasil nos EUA Cliff Sobel fez a recepção da comitiva brasileira. Sobel foi um dos responsáveis pela articulação do encontro entre Bolsonaro e Bush.

O presidente do Brasil foi ao encontro a pé do hotel em que está hospedado até o escritório político de Bush, em um trajeto de cerca de 300 metros. Ele foi acompanhado dos ministros Augusto Heleno, Ernesto Araújo e Paulo Guedes, além do assessor de assuntos internacionais do Planalto, Filipe Martins.

Ao falar por cerca de quatro minutos com jornalistas, Bolsonaro não detalhou o tema do encontro, mas citou a questão da eleição na Argentina. Segundo ele, “pelo semblante”, Bush demonstrou concordância com o que ele disse. Segundo o presidente, os dois falaram sobre a crise na Venezuela, mas rapidamente o brasileiro passou a tratar da eleição argentina. “Mais importante do que fazer um gol é evitar outro e esse gol contra seria a argentina voltando para as mãos da Kirchner”, destacou Bolsonaro.

O presidente brasileiro disse que a eleição de Kirchner geraria “uma nova Venezuela no sul da América do Sul”. “Gostaríamos que a Argentina não retrocedesse nessa questão ideológica.”

Frase

“Se você perguntar a fórmula da água, não sabe, não sabe nada. São uns idiotas úteis, que estão sendo usados como massa de manobra de uma minoria espertalhona que compõe o núcleo das universidades federais”

Jair Bolsonaro, presidente da República