Título: Limite para baixar juro
Autor: Martins, Victor
Fonte: Correio Braziliense, 18/09/2012, Economia, p. 13

Segundo analistas, decisão do Banco Central de reduzir compulsório indica que a Selic ficará em 7,5%, sem novos cortes neste ano

A queda dos juros parece ter chegado ao fim. O Banco Central (BC) pode travar a taxa básica (Selic) em 7,5% ao ano na reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) em outubro. Analistas argumentam que a última cartada de Alexandre Tombini, o presidente da instituição, mostra que a opção foi mudar a estratégia para diminuir os riscos de inflação: ao invés de reduzir os juros no próximo mês, ele decidiu liberar R$ 30 bilhões do dinheiro que os bancos tinham nos cofres do BC, recursos que estavam presos no chamado depósito compulsório. Essa injeção de capital na economia, anunciada na semana passada, deve ser mais eficaz do que um novo corte, além de evitar piora das expectativas de custo de vida para 2013.

"Embora a pesquisa Focus desta semana ainda não aponte nessa direção, os mercados já trabalham com a expectativa de Selic estável em 7,5% na próxima reunião do Copom, em outubro", observou Rubens Sardenberg, economista-chefe da Federação Brasileira de Bancos (Febraban). Ele ponderou, no entanto, que o BC tem sido pragmático e deve continuar a responder prontamente a qualquer sinal de inflação ou de problemas na atividade doméstica ou na externa. "Qualquer mudança em relação ao desempenho dessas variáveis poderá levar o BC a retomar uma postura mais agressiva na condução da política monetária. Mas, no futuro próximo, não parece a alternativa mais provável."

Economistas lembram ainda que o uso de medidas como a liberação dos depósitos compulsórios entram em cena apenas quando o Banco Central esgota a redução da Selic ou quer evitá-la. "Isso irá surtir efeito ainda neste ano, evitando o pior", avaliou André Perfeito, economista-chefe da corretora Gradual Investimentos. Segundo ele, o BC ainda parece preocupado com o crescimento, mas teria chegado ao limite dos estímulos que pode proporcionar por meio da política monetária.

Perfeito lembra ainda que os R$ 30 bilhões em compulsórios tiveram um segundo efeito além do monetário. Esse dinheiro aliviou a situação de bancos com dificuldade de captar recursos, sobretudo depois da liquidação do Cruzeiro do Sul. Algumas instituições que já estavam em dificuldade viram ficar mais caras algumas fontes de capital e financiamento em função do aumento dos receios no mercado.

» Menos PIB, mais carestia

Mesmo com as medidas de incentivo do governo, a expectativa do mercado financeiro para o crescimento da economia este ano continua piorando. Segundo o relatório Focus, do Banco Central, os analistas reduziram pela sétima semana consecutiva a previsão para a expansão do Produto Interno Bruto ( PIB) em 2012, desta vez de 1,62% para 1,57%. O número está bem abaixo da revisão feita pelo Ministério da Fazenda, que espera um PIB de 2% para o ano. Há quatro semanas, no Focus, as apostas eram de 1,75%. O mercado não mexeu na previsão para 2013, que permanece em 4%. Por outro lado, o mercado elevou pela 10ª semana consecutiva a projeção de inflação medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) em 2012, que passou de 5,24% para 5,26%. Há um mês estava em 5,15%.