Título: Agência nuclear desconfia do Irã
Autor: Tranches, Renata
Fonte: Correio Braziliense, 18/09/2012, Mundo, p. 16

Na véspera de mais uma ofensiva diplomática das potências mundiais para levar o Irã à mesa de negociação sobre seu programa nuclear, a pressão sobre o regime islâmico recrudesceu, ontem, com o início da reunião anual da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), em Viena. No mesmo dia em que os Estados Unidos iniciaram manobras navais no Golfo Pérsico, o diretor-geral da AIEA, Yukiya Amano, afirmou que não pode garantir que "todo o material nuclear no Irã seja para atividades pacíficas".

O negociador da República Islâmica para a questão, Saeed Jalili deve reunir-se hoje em Istambul, na Turquia, com enviados do grupo 5+1, formado por EUA, Reino Unido, França, Rússia e China - os cinco membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU - e pela Alemanha. A chefe da diplomacia da União Europeia, Catherine Ashton, que lidera as negociações, antecipou que pedirá às autoridades iranianas para fazerem "o necessário" com o propósito de gerar confiança sobre suas intenções com o programa nuclear. O encontro é mais uma tentativa de retomar as conversações iniciadas em maio, após mais de um ano de paralisação.

Na abertura da assembleia anual da AIEA, Amano cobrou "mais transparência e cooperação" de Teerã para responder às dúvidas da comunidade internacional. "O Irã não está facilitado a cooperação necessária para dar garantias sobre a inexistência de material e atividades não declaradas. Portanto, não podemos concluir que todo o material nuclear do Irã é para atividades pacíficas", afirmou. Em seu discurso, publicado no site da agência, o diretor-geral reconheceu que as tentativas de negociação com o Irã ficaram mais tensas e lamentou que não tenham chegado a resultados concretos. Ao comentar as críticas internacionais, o chefe do programa nuclear do Irã, Fereydun Abbasi-Davani, disse acreditar que a agência está infiltrada por "terroristas e sabotadores", além de ser influenciada por "certos países".

As declarações se seguiram às entrevistas do primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, para duas tevês norte-americanas, nas quais afirmou que o Irã terá alcançado "90% do necessário" para uma bomba atômica nos próximos seis ou sete meses. Israel tem pressionado os EUA para que fixem prazos ou limites - uma "linha vermelha" - ao desenvolvimento nuclear no Irã, o que Washington se recusa a fazer.

As forças norte-americanas iniciaram ontem um exercício naval para dragagem de minas no Golfo Pérsico, próximo ao litoral iraniano. As manobras seguirão até o próximo dia 27, com participação de mais 20 países. A Guarda Revolucionária iraniana divulgou nota dizendo que os exercícios "são defensivos" e que o regime islâmica não vê neles "nenhuma ameaça".