Valor econômico, v.19, n.4819, 21/08/2019. Brasil, p. A2
Integrar agenda ambiental com emprego é desafio
Daniela Chiaretti
21/08/2019
"O mundo do trabalho não faz parte desta agenda. O primeiro desafio é justamente este, incluí-lo na agenda da mudança climática." A frase de Clemente Ganz Lúcio, diretor técnico do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) aponta para um contexto global em que as pautas ambientais e sindicais historicamente não convergiam. O quadro, contudo, parece estar mudando.
Na Alemanha as políticas climáticas já são um importante "fator econômico", disse ontem Lutz Morgenstern, primeiro-secretário para assuntos ambientais da Embaixada da Alemanha no Brasil, na Semana do Clima da América Latina e Caribe, em Salvador.
"Um em cada 30 empregados deve seu trabalho a elas", continuou, em evento promovido pelo Instituto Clima e Sociedade (iCS) e pela embaixada alemã.
Cerca de 1 milhão de pessoas trabalham na prestação de serviços da proteção ambiental e na reestruturação energética dos edifícios. Quase 300 mil empregados atuam em energias renováveis, e 85 mil pessoas, na produção de bens utilizados no combate à mudança do clima. O número de patentes de artigos relacionados ao desafio da mudança climática cresce duas vezes mais rápido que o das demais.
O grande debate alemão dos últimos anos foi como realocar os mineiros do setor de carvão após o país tomar a decisão de limpar sua matriz energética e reduzir a zero o consumo de carvão.
Tilman Christian, chefe da divisão de planejamento ambiental da cidade alemã de Bottrop relatou como a cidade vem reinventando sua economia. Às margens do Reno, Bottrop tem 117 mil habitantes e tinha forte dependência ao carvão. A última mina foi fechada em dezembro. "Mas este processo começou há 20 anos. Tivemos tempo para nos planejar."
Bottrop tem 47 mil empregados e taxa de desemprego de 7%. O esforço tem sido em criar postos de trabalho investindo na reestruturação de moradias ambientalmente saudáveis e na mobilidade elétrica.
Na mudança de perfil econômico de Bottrop, muitas empresas ajudaram, como Bosch e Siemens. O maior investimento na reestruturação da cidade vem do setor privado.
"A transição justa é absolutamente fundamental. É preciso olhar com atenção para os setores que vão perder empregos", disse Ana Toni, diretora-executiva do iCS. No caso brasileiro, continuou, "o setor do petróleo, do gás e do carvão vão perder. Mas, em comparação com países completamente dependentes de carvão, talvez aqui a transição possa ser mais amena." "Temos que ter bioeconomia criando empregos cada vez mais qualificados. Não se pode ir contra a história", seguiu. "