Valor econômico, v.19, n.4819, 21/08/2019. Brasil, p. A4

 

Críticas de Bolsonaro dificultam ratificação, diz embaixador da UE

Fabio Murakawa 

21/08/2019

 

 

O novo embaixador da União Europeia no Brasil, Ignacio Ybáñez, disse ontem que as declarações do presidente Jair Bolsonaro contra líderes como a chanceler alemã Angela Merkel e o presidente francês Emmanuel Macron "não são positivas" e podem impor dificuldades para os parlamentos europeus para ratificarem o acordo Mercosul-União Europeia. Segundo ele, "se vamos fazer uma política de confronto não estamos realmente servindo ao acordo".

Ele ponderou, no entanto, que o bloco trabalha "mais com fatos do que com declarações".

Bolsonaro vem há semanas criticando os governantes de Alemanha e França por supostas pressões que vem recebendo na área ambiental. O tom das críticas, sobretudo a Merkel, aumentou depois que a Alemanha e a Noruega, decidiram cortar doações que somam cerca R$ 290 milhões anuais para projetos de preservação da Amazônia depois que dados apontaram alta no desmatamento e por conta da política ambiental do governo Bolsonaro.

"A Noruega não é aquela que mata baleia lá em cima, no Polo Norte, não? Que explora petróleo também lá? Não tem nada a oferecer para nós. Pega a grana e ajuda a Angela Merkel a reflorestar a Alemanha", disse o presidente brasileiro na semana passada, após a Noruega ter anunciado o congelamento de R$ 134 milhões em repasses para o Fundo Amazônia.

O fundo, gerido pelo BNDES, agrega doações de países destinadas à preservação ambiental.

Ybáñez, que recebeu jornalistas ontem em sua residência oficial em Brasília, está há menos de um mês no Brasil e ainda não apresentou suas credenciais a Bolsonaro.

Ele afirmou que a UE ainda não definiu se bastará a aprovação do Parlamento Europeu para que o acordo seja ratificado ou se o acordo terá que passar pelo crivo dos parlamentos de cada um dos 28 países do bloco - ou 27, quando o Reino Unido de fato sair.

Porém, disse, "é claro que qualquer coisa que você introduz como uma dificuldade na relação entre a UE e os países do Mercosul vai ser uma dificuldade para ratificação".

"É muito importante o ambiente que vamos criar. E é claro que as declarações de uns e de outros, da parte brasileira e da parte argentina e da parte europeia, se vamos fazer uma política de confronto não estamos realmente servindo ao acordo", afirmou. "O acordo estabelece uma relação de proximidade e cooperação entre UE e Mercosul que seria realmente única em nossa relação."

O embaixador disse que os indícios até o momento são de que "o Brasil está satisfeito com a relação com a União Europeia". "Nós, como todos os países, vamos trabalhar com as declarações, mas muito mais com os fatos", afirmou.

Ele citou como exemplo o fato de o presidente brasileiro sempre ter dito que priorizaria a relação com os EUA, mas "o primeiro resultado concreto que você encontra na realidade do governo Bolsonaro é o acordo UE-Mercosul".

"É claro que há umas declarações, e vocês [jornalistas] falaram delas, da chanceler alemã, do presidente francês que não são positivas, eu não posso dizer que é uma boa", disse. "Para nós não é bom que qualquer político vai falar dos responsáveis das instituições dos membros da UE. Mas realmente na realidade, na parte das negociações, a atitude do governo Bolsonaro nós não temos mais do que reconhecimento."