Valor econômico, v.19, n.4819, 21/08/2019. Política, p. A10

 

Indicação de Eduardo divide bolsonaristas 

Fabio Murakawa 

Renan Truffi 

Vandson Lima 

21/08/2019

 

 

Com o presidente hesitante em enviar ao Senado a indicação de seu filho para o cargo de embaixador nos Estados Unidos, sua base no Congresso também está dividida quanto à melhor estratégia a seguir. Jair Bolsonaro vem externando temor em submeter o filho e deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) a uma vexatória rejeição pelos senadores.

Uma parte dos apoiadores do presidente crê que o tempo trabalha contra Eduardo. Por esse raciocínio, quanto mais a indicação demorar a chegar aos senadores, mais obstáculos a ela vão surgindo e mais difícil fica a aprovação.

Outro grupo, porém, vem detectando uma alta rejeição à nomeação do filho do presidente nas redes sociais bolsonaristas. Também temem questionamentos na Justiça que possam resultar na interpretação de que Eduardo precisa renunciar ao cargo de deputado federal para assumir o posto. Ou de que a indicação represente um ato de nepotismo.

Ontem, um novo parecer técnico do Senado, feito a pedido do líder do governo, Fernando Bezerra Coelho (MDB-PE), apontou elementos para tentar embasar a tese de que a indicação de Eduardo a embaixador "pode" não ser considerada nepotismo.

Assinado pelo consultor João Trindade Cavalcante Filho, o documento aponta que, a depender da interpretação do que configura um "cargo político" ou um "cargo de natureza técnica", o Senado pode dar aval para Eduardo assumir o posto. O texto também deixa claro que, caso receba aval do Senado para ser embaixador, Eduardo terá de renunciar ao cargo de deputado federal antes de ser nomeado para o posto.

Segundo diversas fontes, são o próprio Bolsonaro e seu filho que estão à frente das conversas com os senadores sobre o tema. Ministros acostumados a fazer a interlocução com o Congresso, como Onyx Lorenzoni (Casa Civil) e Luiz Eduardo Ramos (Secretaria de Governo), não têm se envolvido diretamente.

Um dos senadores mais próximos do presidente, Chico Rodrigues (DEM-RR) acredita que a indicação passará "com folga" tanto na Comissão de Relações Exteriores quanto no Plenário do Senado - as duas instâncias pelas quais a nomeação de embaixadores precisam passar.

Ele é um dos defensores do envio rápido da indicação pois, em sua opinião, quanto mais o tempo passa "mais surgem obstáculos e questionamentos".

"Eu, até amanhã [hoje], vou tentar falar com o Eduardo e dizer que, quanto mais demorar, mais surgem obstáculos e questionamentos. E mais vai politizar."

Há no PSL, no entanto, quem esteja preocupado com a possibilidade do Supremo Tribunal Federal (STF) ser provocado sobre o assunto e decidir que a indicação representa, sim, nepotismo.

Nas redes sociais, parlamentares próximos ao governo têm relatado que, mesmo entre os grupos bolsonaristas, o tema tem rendido mais interações negativas do que positivas. A narrativa de que Eduardo, por ser filho do presidente, poderia aproximar o Brasil dos EUA não teria sido suficiente para superar a crítica de nepotismo.

Ontem, Bolsonaro admitiu que pode desistir da indicação caso avalie que não terá votos suficientes no Senado para que a nomeação seja aprovada. "Eu não quero submeter o meu filho a um fracasso. Eu acho que ele tem competência. Tudo pode acontecer."

Diante de contagens informais que dão conta de que faltam sete votos para que a indicação seja aprovada, Bolsonaro afirmou que isso é "voto pra caramba". Ele afirmou ainda que, "se o Senado quiser rejeitar o nome, é um direito dele".

Eduardo foi ao Twitter dizer que a imprensa "tenta desvirtuar" a fala do pai "para dar contornos a um fato que inexiste". Segundo o deputado, o presidente "não cogitou não enviar" seu nome ao Senado. "Ele apenas disse, com outras palavras, que numa votação pode-se ganhar ou perder. Algo simples de entender quando se tem boa-fé."