Valor econômico, v.19, n.4818, 20/08/2019. Política, p. A7

 

Favorito à PGR nega influência de Flávio Bolsonaro 

Isadora Peron 

Marcelo RIbeiro 

Mariana Muniz 

20/08/2019

 

 

O favorito ao comando da Procuradoria-Geral da República (PGR), o subprocurador Antônio Carlos Simões Martins Soares, teve a aposentadoria cassada pelo Tribunal de Contas da União (TCU) e foi obrigado a voltar a atuar no Ministério Público Federal (MPF). Soares ficou aposentado entre 2010 e 2015, mas o TCU considerou que a aposentadoria foi irregular porque ele acrescentou o tempo que teria trabalhado como advogado sem comprovar o recolhimento das contribuições previdenciárias. Após voltar a atuar no MPF, foi promovido a subprocurador em 2016, durante a gestão de Rodrigo Janot.

O nome de Soares começou a ganhar força na semana passada, após receber o apoio do filho mais velho do presidente, o senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ).

Desconhecido pela grande maioria dos seus pares, Soares também não tem trânsito entre ministros do Supremo Tribunal Federal (STF). Pelo menos dois deles afirmaram ao Valor não conhecê-lo pessoalmente. Atualmente, ele atua nas turmas de direito privado do Superior Tribunal de Justiça (STJ).

Em entrevista ao jornal "O Globo", Soares disse que a escolha de Bolsonaro não está definida e que as notícias sobre seu nome são "especulação". "Não estou escolhido nada. Isso é tudo especulação. Não tem nada escolhido não, 90% é especulação", disse. Soares disse que não conhece o advogado de Flávio, Frederick Wassef, " e o Flávio Bolsonaro eu só vim a conhecer agora, há 20 dias". Ele disse que seu apoio vem principalmente da área militar do governo. "Estão querendo complicar a vida do filho do presidente e não é verdade, eu não vou me servir para isso", disse a "O Globo".

Segundo fontes ligadas ao governo, o Planalto trabalha para dissociar a imagem do mais novo cotado à PGR do filho do presidente. A preocupação é que a indicação seja vista como uma tentativa de blindagem de Flávio, alvo de investigações pelo MPF do Rio, como o caso envolvendo o ex-assessor Fabrício Queiroz.

Interlocutores também temem que, caso se concretize, a indicação reforce a percepção de que "Bolsonaro escuta apenas os filhos", ignorando conselhos da ala militar e de auxiliares mais próximos.

Pessoas próximas a Flávio têm dito que os dois não se conheciam e se encontraram após Soares ser recebido por Bolsonaro no Planalto na semana passada. Soares não é militar, mas tem ligações com as Forças Armadas por ter feito um curso na Escola Superior de Guerra (ESG).