Correio braziliense, n. 20449, 17/05/2019. Política, p. 3

 

Investigações irritam Bolsonaro

Jorge Vasconcellos

17/05/2019

 

 

O presidente Jair Bolsonaro se eximiu de culpa e também defendeu o filho, o senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ), das acusações do Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ) de movimentações financeiras ilegais do primogênito. Ele acusou a instituição de tentar atingi-lo e desafiou os procuradores a investigá-lo diretamente. O MP apontou indícios robustos de crimes de peculato, lavagem de dinheiro e organização criminosa no gabinete de Flávio quando ele era deputado na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj).

As investigações levaram o juiz Flávio Nicolau, da 27ª Vara Criminal do Rio, a quebrar o sigilo bancário e fiscal de 95 suspeitos. Entre eles estão nove pessoas que atuaram como assessores de Jair Bolsonaro durante os mandatos dele como deputado federal.

Em Dallas (EUA), o presidente disse que coloca o próprio sigilo bancário à disposição e disse que as investigações fazem um “esculacho” em cima de Flávio para prejudicar o governo. “Façam justiça! Querem me atingir? Venham para cima de mim! Querem quebrar meu sigilo, eu sei que tem que ter um fato, mas eu abro o meu sigilo. Não vão me pegar”, desafiou. Procurado pela reportagem, o MPRJ informou que, em “razão do sigilo legal decretado nas investigações”, não iria se pronunciar.

Um dos focos principais das investigações do MPRJ é confirmar a suspeita de que Flávio recebia de volta parte dos vencimentos de seus assessores na Alerj, uma prática conhecida como “rachadinha”. O Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) encontrou movimentações atípicas nas contas do senador e de seu ex-assessor Fabrício Queiroz, em relatório tornado público no fim de 2018. Ao solicitar à 27ª Vara Criminal do Rio as quebras de sigilos bancário e fiscal de 95 alvos, o MP apontou indícios da existência de uma “organização criminosa” atuante desde 2007.

Os ex-funcionários de Jair Bolsonaro que tiveram quebra de sigilo autorizada pela Justiça do Rio são Andrea Siqueira Valle, Daniel Medeiros da Silva, Fernando Nascimento Pessoa, Jaci dos Santos, Juliana Siqueira Vargas, Marselle Lopes Marques, Michelle Almeida dos Santos, Nelson Alves Rabello e Nathália de Melo Queiroz, filha do ex-assessor de Flávio.

Contato

Andrea e Juliana são, respectivamente, irmã e prima de Ana Cristina Valle, ex-mulher de Jair Bolsonaro e mãe do quarto filho dele, Jair Renan. Segundo reportagem da Época, a ex-cônjuge do presidente teria sido um contato importante para que outros parentes fossem nomeados nos gabinetes da família. Andrea e Juliana foram lotadas no gabinete do então deputado Jair Bolsonaro, na Câmara, antes do período delimitado pelo MP na quebra de sigilo, de 2007 e 2018, da mesma forma que Marselle Lopes e Michelle dos Santos.

A filha de Queiroz, por sua vez, foi lotada no gabinete de Flávio na Alerj, entre 2011 e 2016, e depois nomeada secretária parlamentar de Jair Bolsonaro na Câmara, até ser exonerada, em outubro de 2018. Segundo um relatório do Coaf, ela repassou para o pai, no ano passado, o equivalente a 80% da sua remuneração como assessora do então deputado na Câmara. O advogado Paulo Klein, responsável pela defesa da família Queiroz, informou que entrará com habeas corpus para suspender a investigação, que considera ilegal, e a quebra de sigilo, na avaliação dele, sem fundamentação.

Frase

“Querem me atingir? Venham para cima de mim! Querem quebrar meu sigilo, eu sei que tem que ter um fato, mas eu abro o meu sigilo. Não vão me pegar”

Jair Bolsonaro, presidente da República