Valor econômico, v.20, n.4816, 16/08/2019. Brasil, p. A4

 

Desemprego de longa duração ganha força 

Bruno Villas Bôas 

16/08/2019

 

 

Uma das piores heranças da recessão, o desemprego de longa duração segue crescendo e atingiu a quantidade recorde de 3,347 milhões de pessoas no segundo trimestre deste ano, maior nível desde 2012, mostram dados divulgados ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Esse era o total de pessoas desempregadas no país que estavam a procura de vaga, de forma ininterrupta, havia dois anos ou mais. Trata-se de um contingente 179% maior que no segundo trimestre de 2014 (1,2 milhão), quando o mercado de trabalho ainda não tinha sido afetado pela crise.

Esse tipo de desemprego é especialmente preocupante, segundo especialistas. Pessoas que ficam muito tempo sem trabalhar podem ficar desatualizadas e ter mais dificuldade para se reinserir no mercado, numa espécie de ciclo sem fim.

Dados do IBGE mostram que os trabalhadores em busca de vaga há dois anos ou mais era maior no Sudeste (1,477 milhão de pessoas) e Nordeste (1,124 milhão). O Estado de São Paulo, que tem a maior população e o maior mercado de trabalho, naturalmente concentrava essa procura, com 807 mil pessoas, seguido do Rio (523 mil).

De acordo com Adriana Beringuy, analista do IBGE, o elevado tempo de procura também é um dos fatores por trás do avanço do desalento e do aumento da informalidade no mercado brasileiro. "O movimento pode favorecer inserções em ocupações de menores rendimentos, sem vínculos formais, como os conta própria ou sem carteira de trabalho", disse a especialista.

No segundo trimestre, o país tinha 4,87 milhões de desalentados, como são chamados as pessoas que não estão empregadas nem tomam providências para conseguir uma ocupação, embora estivessem disponíveis para trabalhar. Bahia (766 mil pessoas) e Maranhão (588 mil pessoas) são os Estados com maior concentração de desalentados no período de abril a junho.

A dificuldade para conseguir voltar ao mercado de trabalho também empurra trabalhadores por postos informais e por conta própria, como autônomos. Os números do IBGE mostram que o país tinha 19,4 milhões de trabalhadores informais por conta própria (sem patrão nem empregados) e 11,5 milhões de empregados que não possuíam carteira de trabalho assinada.

Pela definição da Organização Internacional do Trabalho (OIT), o desemprego de longa duração refere-se a pessoas que procuram vaga há um ano ou mais. Por esse recorte, o país tinha 5,154 milhões de pessoas em busca de emprego, 3% a mais do que no mesmo período do ano passado (5 milhões), conforme as estatísticas do IBGE.

A maior parcela (45,6%) dos desempregados procurava emprego no período de um a 12 meses, o que corresponde a um grupo de 5,8 milhões de pessoas. Neste caso, porém, o contingente total era menor do o que do segundo trimestre do ano passado, quando havia 6,1 milhões de pessoas na fila. Ou seja, elas fizeram "aniversário" de busca por vaga e migraram para a faixa de cima do tempo de procura.