Valor econômico, v.20, n.4816, 16/08/2019. Política, p. A8
Aprovação de Eduardo ainda é incerta
Andrea Jubé
Fabio Murakawa
Renan Truffi
Vandson Lima
16/08/2019
O presidente Jair Bolsonaro disse ontem que só encaminhará a indicação do filho, o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), para comandar a Embaixada do Brasil nos Estados Unidos quando tiver certeza da aprovação. Ele ressalvou que caberá ao filho, que já começou o corpo a corpo com os senadores, indicar o momento certo do envio da mensagem presidencial.
Bolsonaro assumiu as rédeas da articulação para garantir a aprovação do filho e evitar uma nova derrota no Senado, que há dois meses anulou os decretos das armas, um de seus projetos mais caros.
"Ele [Eduardo] vai sentir o momento para encaminhar", disse Bolsonaro na porta do Palácio da Alvorada. Mais tarde, reforçou a afirmação, após evento no Clube Naval: "Ele está namorando o Senado, está conversando, demonstrando humildade, estudando sabatinas anteriores". Bolsonaro avisou: "entendo que meu garoto tem condições de ser aprovado lá".
Em outra frente, Eduardo Bolsonaro confirmou ontem, em entrevista na Câmara dos Deputados, a afirmação do presidente de que o melhor momento para o envio da indicação ao Senado é quando tiver "o máximo de apoio possível".
Eduardo adiantou que já se reuniu com os senadores Irajá Abreu (PSD-TO), Esperidião Amin (PP-SC), Mailza Gomes (PP-AC) e Vanderlan Cardoso (PP-GO), e afirmou que está "esperançoso" porque as conversas foram "animadoras".
O deputado ressaltou que, embora a Constituição Federal autorize a sessão secreta para a futura sabatina na Comissão de Relações Exteriores, ele espera que a reunião seja aberta porque "há interesse público". "Vou demonstrar conhecimento, habilidade, minha competência para tão importante cargo".
Nos bastidores, a leitura do presidente e de Eduardo, atualmente, é de que o governo ainda tem uma "vantagem apertada". Ainda ecoa no Planalto o placar de por 47 votos a 28, no dia 18 de junho, que anulou os decretos que flexibilizavam o porte e a posse de armas no Brasil. Para evitar a repetição desse resultado, Bolsonaro assumiu pessoalmente a articulação pelo Planalto, enquanto Eduardo faz a interlocução direta com os senadores.
Paralelamente, o ministro da Secretaria de Governo, Luiz Eduardo Ramos, já conversou com senadores de partidos como PL, Podemos, DEM e PROS para tratar do assunto, porém, não é sua prioridade. A ideia é que Ramos e o ministro-chefe da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, foquem seus esforços na aprovação da reforma da Previdência.
Segundo senadores ouvidos pelo Valor, o presidente da Comissão de Relações Exteriores (CRE), senador Nelsinho Trad (PSD-MS), estaria mapeando insatisfações dos colegas de parlamento. No colegiado, o cenário atualmente é de empate.
O Presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), dará o ritmo de andamento do processo. Na segunda-feira, ele afirmou que apenas o "critério presidencial" - ou seja, dele mesmo - determinará quando e como andará a mensagem.
Alcolumbre tem atrasado um trâmite meramente burocrático, de fazer a leitura das indicações em plenário, o que trava todo o processo. "A ordem que o presidente determina, eu que estou determinando, pessoalmente, a leitura das mensagens. Estou fazendo a leitura conforme eu compreendo da importância das mensagens", disse. O presidente não quis dizer se passará a indicação de Eduardo, quando esta chegar, à frente de outras 13 que aguardam na fila para leitura.
Uma dificuldade adicional para Eduardo surgiu esta semana. A CRE tinha uma vaga ainda a ser preenchida para completar os 19 integrantes, evitando um eventual empate na votação. Mas, pelos critérios de proporcionalidade, o posto ficou com o PT, que indicou Humberto Costa (PT-PE) - por óbvio, desde já voto contra a indicação de Eduardo.