Valor econômico, v. 19 , n. 4784, 03/07/2019. Finanças, p. C3

 

Senado aprova nomeação de Fernanda Nechio para o BC

 

 

 

Estevão Taiar

Álvaro Campos

03/07/2019

 

 

A economista Fernanda Feitosa Nechio foi oficialmente nomeada diretora de Assuntos Internacionais e Riscos Corporativos do Banco Central (BC), após ter seu nome aprovado ontem pelo Senado. No plenário da Casa, ela recebeu 64 votos a favor e dois contrários, em votação que durou cerca de 15 minutos.

Fernanda assume o lugar de Tiago Berriel, que deixou o cargo por motivos pessoais. A diretoria vinha sendo ocupada interinamente nas últimas semanas por João Manoel Pinho de Mello, diretor de Organização do Sistema Financeiro e Resolução. Ao lado do próprio Pinho de Mello e de Bruno Serra Fernandes (Política Monetária), ela ocupa a terceira (de um total de oito) diretoria indicadas pelo atual presidente do BC, Roberto Campos Neto.

Pela manhã, Fernanda já havia participado de sabatina na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado. A sabatina ocorreu sem momentos de tensão. No fim, todos os 17 votos foram favoráveis à nomeação.

Nos últimos dez anos, ela ocupava o cargo de "research advisor" no Federal Reserve (Fed, o banco central americano) de San Francisco. Ela é bacharel e mestre pela PUC-RJ e PhD pela Universidade Princeton (EUA).

Tanto em seu discurso realizado durante a sabatina da CAE quanto em suas respostas para a comissão, Fernanda se mostrou alinhada com a atual diretoria do BC, apresentando um discurso duro de combate à inflação. Ela reconheceu, por exemplo, que a recuperação da atividade "foi interrompida" em trimestres anteriores, mas afirmou que mesmo assim há fatores que podem "pressionar a inflação". Os riscos citados pela nova diretora foram aqueles que o Comitê de Política Monetária (Copom) destacou na ata de sua última reunião: incertezas ligadas à aprovação de reformas e ao cenário externo.

Fernanda também saiu em defesa do mandato único do BC, com foco apenas na inflação. "Não existe crescimento sustentável sem estabilidade de preços", disse. Mudanças no mandato são arriscadas, de acordo com ela, pois podem ser mal interpretadas, aumentar as incertezas a respeito da condução da política monetária e no fim ter efeitos contraproducentes, disse.

Outro ponto defendido pela nova diretora foram as reservas internacionais. Hoje na casa de US$ 380 bilhões, elas formam um "colchão" de proteção contra crises externas. "Ter esse colchão é importante principalmente para países emergentes. Vimos no ano passado economias emergentes sem nível adequado de reservas para se proteger do estresse vindo de fora", afirmou.

Ela admitiu que não há um consenso a respeito do "nível ótimo" desses recursos, já que esse é um debate ainda em curso na literatura econômica. Mas "dado o tamanho da economia brasileira, o nível de reservas não é muito diferente do de pares emergentes". "Vejo a manutenção do nível atual de reservas como fator muito positivo", afirmou.

Já os depósitos compulsórios, embora tenham sido "importantes" em momentos de crise, foram classificados por ela como elevados. A economista lembrou que o próprio BC "já anunciou que está em uma tendência de diminuição", mas destacou que a autoridade monetária não apresentou estimativas a respeito de prazos ou do patamar ideal de compulsórios.