Valor econômico, v.20 , n. 4766, 06/06/2019. Brasil, p. A2

 

Para comando dos Correios, estatal é 'insubstituível'

 Renan Truffi

 

 

 

06/06/2019

 

 

 

O presidente dos Correios, Juarez Aparecido de Paula Cunha, defendeu ontem que a estatal é "autossustentável" e "insubstituível". Na sua avaliação, a privatização de um dos setores dos Correios é "um negócio complicado" e pode mexer no "equilíbrio" das operações da estatal. O entendimento de Cunha contraria as declarações de Jair Bolsonaro, que tem defendido publicamente a venda da companhia.

A defesa foi feita em audiência pública sobre o tema na Câmara. Na sessão, o general acabou ganhando apoio de carteiros e servidores públicos da empresa. Segundo ele, um dos motivos da crise dos Correios é que, nos últimos 15 anos, o governo recolheu R$ 7,6 bilhões em dividendos. Ainda assim, fez questão de destacar que os Correios ficaram no "azul" em 2018, com balanço positivo de R$ 161 milhões. "Houve recolhimento muito alto de dividendos, isso comprometeu a empresa. Mataram a galinha dos ovos de ouro e entramos em crise. Em 2018, ficamos no azul, é isso que nos interessa."

O general apresentou dados que mostram que a estatal tem "alto lucro" em 324 municípios, classificados por ele como o "filé mignon". Isso ajudaria a garantir a operação nas regiões onde a estatal tem prejuízo. "O lado bom dos Correios é que dá um lucro danado, mas nós temos um outro lado: 5.246 municípios dão prejuízo. Pela nossa missão, nós temos que estar lá, não tem como fugir da raia. Isso é nossa missão constitucional", defendeu. Por causa desse cenário, ele salientou que ofertar o segmento lucrativo à iniciativa privada "pode tirar o equilíbrio instável" das finanças e acabar com a universalização do sistema postal.

"Se privatizar uma parte que dê R$ 4 bilhões [de lucro], alguém vai ter que pagar do outro lado. É um negócio complicado", disse.

A apresentação embasou ainda mais os argumentos dos sindicalistas presentes na audiência, contrários à venda. "Pela apresentação do general, não vai ter privatização. É preciso que o governo se entenda", ironizou o secretário-geral da Federação Nacional dos Trabalhadores em Empresas de Correios e Telégrafos e Similares, José Rivaldo da Silva.

Presente na audiência, o assessor especial do Ministério da Economia Fabio Abrahão disse que os problemas estão, na verdade, no alto déficit do planos de aposentadoria e de saúde dos funcionários. "Os Correios estão perdendo volume de mercado. Daqui a pouco, a companhia valerá muito pouco. Vai sobrar o déficit."