Título: CPI pede bloqueio de 168 bens
Autor: Valadares, João
Fonte: Correio Braziliense, 19/09/2012, Política, p. 5

Comissão também quer que a Justiça recolha os passaportes das pessoas ligadas à Cachoeira para que não fujam do país

A CPI do Cachoeira pede hoje ao Ministério Público Federal (MPF) que solicite à Justiça o sequestro imediato de 167 imóveis e um avião, avaliados em R$ 141,6 milhões, registrados em nome de 29 pessoas e três empresas da quadrilha do bicheiro Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira. No mesmo ofício, a cúpula da comissão requer o depósito em juízo dos passaportes de todos os 81 denunciados pelo MPF na chamada Operação Monte Carlo. A decisão foi tomada após denúncia publicada na edição de domingo do Correio.

A reportagem mostrou que o patrimônio da organização criminosa está sendo vendido às pressas, pela metade do preço, nas regiões administrativas do Distrito Federal e em cidades do Entorno, por José Olímpio de Queiroga Neto, braço direito do contraventor no DF, com o objetivo de levantar recursos para fugir para os Estados Unidos. O relator da CPI, deputado Odair Cunha (PT-MG), ressaltou que, após a denúncia do jornal, não dá para perder mais tempo. "Se nós não formos céleres, pode ser que, quando chegarmos a esses bens, a quadrilha já tenha se desfeito deles."

O parlamentar conversou com o procurador da República Daniel Rezende, um dos responsáveis pelas investigações da Monte Carlo, e recebeu o sinal verde da instituição. "O Ministério Público já nos deu uma sinalização bastante positiva em relação ao nosso pedido (de sequestro dos bens). Acertamos de nos reunir na próxima terça-feira para que todas essas informações sejam compartilhadas. Esse compartilhamento é muito importante porque garante o sequestro dos bens", disse.

Na lista dos imóveis que devem ficar sob responsabilidade da Justiça, a mulher de Cachoeira, Andressa Alves Mendonça, figura com o maior patrimônio. A CPI pede a retenção de uma fazenda avaliada em R$ 20 milhões, localizada no Distrito Federal. A comissão listou outra propriedade, registrada em nome de Cachoeira, Gleyb Ferreira da Cruz (araponga do grupo), Rossine Aires Guimarães (dono da Construtora Rio Tocantins), Adriano Aprígio de Souza (ex-cunhado de Cachoeira) e do ex-diretor da Delta Cláudio Abreu, avaliada em R$ 17,5 milhões. Os bens da ex-mulher do bicheiro, Andrea Aprígio de Souza, incluindo diversos imóveis e uma propriedade rural, foram avaliados em R$ 16,3 milhões. O ex-delegado da Polícia Federal Deuselino Valadares também aparece no documento. A comissão solicitou o sequestro de uma fazenda no município paraense de José Porfírio, no valor de R$ 4,5 milhões. Em relação a José Olímpio de Queiroga Neto, além dos imóveis citados na reportagem, a comissão pediu o bloqueio de quatro apartamentos, uma fazenda e uma chácara. O patrimônio soma R$ 4,6 milhões.

Passaportes O presidente da CPI, Vital do Rêgo (PMDB-PB), anunciou que pediu ao MPF que provoque a Justiça para que fixe um prazo de recolhimento de todos os passaportes dos envolvidos no escândalo. "Vamos requerer que o MP de Goiás interceda no Poder Judiciário para que seja feito o sequestro de imóveis e bem móveis, bem como determinar prazo para que os denunciados nos autos da ação penal depositem o passaporte no juízo de origem. A matéria do Correio apontava que um dos integrantes pretendia fugir para os EUA", disse Vital do Rêgo.

Durante a semana passada, o Correio visitou, acompanhado de alguns corretores, terrenos da organização criminosa em Santa Maria e na cidade goiana de Valparaíso e constatou que a operação do grupo para "queimar" todas as propriedades adquiridas com dinheiro sujo estava em curso. "Tá mais barato (imóveis) porque o cara tá precisando de dinheiro. Acabaram com a fonte de lucro dele", resumiu um dos vendedores dos imóveis.

Venda proibida Bens da quadrilha de Cachoeira 167 imóveis e avião Em nome de 9 pessoas físicas e 3 empresas

Valor total R$ 141,6 milhões

OTribunal Regional Federal concedeu a Carlinhos Cachoeira o direito de receber a mulher, Andressa Mendonça, em ambiente privativo no Presídio da Papuda. As visitas íntimas ocorrerão sempre às quintas-feiras, semana sim, semana não. O casal poderá ficar junto por até seis horas. O pedido foi feito pelo advogado Ney Moura Teles. As visitas íntimas estavam proibidas desde julho, quando Andressa foi acusada de tentar chantagear o juiz federal Alderico da Rocha Santos para que Cachoeira fosse solto. 0 TRF determinou que a fiança de R$ 100 mil, paga por Andressa para não ser presa pela ameaça feita ao juiz, fosse devolvida.