Valor econômico, v.20 , n. 4766 , 06/06/2019. Política, p. A10

 

Protocolada, avança a CPI das 'fake news' no Congresso.

 

 

 

Vandson Lima

Andrea Jubé

06/06/2019

 

 

 

Considerada uma reação do Congresso Nacional a ataques virtuais promovidos por redes bolsonaristas a parlamentares e ao Supremo Tribunal Federal (STF), a chamada CPI mista das "fake news" foi protocolada ontem. O presidente do Congresso, senador Davi Alcolumbre (DEM-AP), quer instalar o colegiado com 15 deputados e 15 senadores titulares, e igual número de suplentes, na próxima semana.

Autor do requerimento, o deputado Alexandre Leite (DEM-SP) apresentou as assinaturas necessárias para a abertura da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (pelo menos 171 deputados e 27 senadores), que já estão sob conferência na Secretaria-Geral do Senado. Depois da verificação das subscrições, os líderes terão de indicar os integrantes do colegiado.

Nos bastidores, o PT reivindicou a relatoria dos trabalhos, mas há resistência entre as outras legendas. A avaliação é de que entregar a missão ao PT poderia ser interpretado como um "terceiro turno eleitoral". Agora, lideranças dos partidos do Centrão cogitam entregar a presidência do colegiado aos petistas. Simultaneamente, os partidos buscam um relator de perfil técnico e independente.

A nova CPI tem potencial para se transformar no principal instrumento de pressão do Congresso sobre o Planalto. Um dos alvos são as redes bolsonaristas, de onde têm partido ataques aos parlamentares que não declaram apoio explícito à reforma da Previdência ou mantêm postura independente ou de oposição ao governo. Os parlamentares querem saber, principalmente, quem financia e quem coordena as ofensas. Os integrantes do chamado Centrão - bloco de cerca de 200 deputados, de siglas como MDB, PL (ex-PR), PP, PRB, DEM - são os mais atacados. Nas últimas semanas, intensificaram-se as ofensas contra o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ).

A justificativa do requerimento mostra que o escopo é amplo, abarcando inclusive o resultado das eleições de 2018, na qual a onda pro-Bolsonaro elegeu o presidente, a segunda maior bancada na Câmara e três governadores do PSL. "Investigar ataques cibernéticos que atentam contra a democracia e o debate público, a utilização de perfis falsos para influenciar os resultados das eleições de 2018, a prática de 'cyberbullying' sobre os usuários mais vulneráveis da rede de computadores, bem como sobre agentes públicos".