O Estado de São Paulo, n. 45811, 22/03/2019. Política, p. A10

 

Moreira monitorava as propinas, afirma MPF

Vera Rosa 

Fausto Macedo

Roberta Jansen

Vinicius Neder

Fabio Serapião

22/03/2019

 

 

 

Procuradores definem ex-ministro como ‘longa manus’ de Temer na organização

Ex-ministro. Moreira Franco foi abordado e preso por policiais federais na rua, logo após desembarcar no aeroporto do Rio

Wellington Moreira Franco é o “longa manus” do ex-presidente Michel Temer “nos atos ilícitos praticados pela organização criminosa”. Assim os procuradores da República da força-tarefa da Lava Jato no Rio justificaram o pedido de prisão do político que foi governador do Rio (19871991), ministro da Secretaria da Aviação Civil (2013 a 2015), secretário-geral da Presidência (2017 a 2018) e ministro das Minas e Energia (2018).

“Ele não só solicitou o pagamento de propina, mas também acompanhou o pagamento até a sua efetiva realização”, afirmou o procurador Sérgio Pinel. A fundamentação do pedido de prisão preventiva contra o exministro ocupa menos de 2 das 383 páginas do pedido feito pelo Ministério Público Federal.

Para o advogado do ex-ministro, Antônio Sérgio Moraes Pitombo, a prisão era desnecessária, pois Moreira Franco “manifestou estar à disposição nas investigações em curso, prestou depoimentos e se defendeu por escrito quando necessário”. “Causa estranheza o decreto de prisão vir de juiz de direito cuja competência não se encontra ainda firmada, em procedimento desconhecido até aqui.” Segundo o MPF, além da Eletronuclear, Moreira Franco também negociou propinas na Secretaria da Aviação Civil.

Véspera. Na véspera de ser preso, Moreira Franco dormiu na casa do seu genro, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), como sempre faz quando está em Brasília. Na quarta-feira à tarde, Moreira participou da reunião da Executiva Nacional do MDB. O principal assunto tratado ali foi a eleição para renovar a cúpula do partido, no segundo semestre.

Presidente do MDB, o ex-senador Romero Jucá (RR) – também alvo de investigações – avisou que não disputará novo mandato. O governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha, é um nome citado para assumir o posto. Para tanto, o partido precisaria mudar o seu regimento, que não permite ter no comando um governador.

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Cinco ex-gorvenadores do Rio já foram presos 

Wilson Tosta

22/03/2019

 

 

Sérgio Cabral e Pezão, além de Moreira Franco ainda estão custodiados; Anthony e Rosinha Garotinho estão soltos

Com a prisão do ex-ministro Wellington Moreira Franco (MDB), todos os ex-governadores do Rio vivos e eleitos como cabeça de chapa desde a redemocratização estão presos ou passaram em algum momento pela cadeia. Dos ex-chefes do Executivo estadual eleitos após 1985, só ficam fora da lista Leonel Brizola (PDT), morto em 2004, e Marcello Alencar (PSDB), que morreu em 2014.

Há também uma coincidência partidária: todos os detidos ou ex-detidos são ou foram do MDB/PMDB, que exerceu o poder no Rio de 1987 a 1991 e de 2003 a 2018. Integram o partido os três presos – além de Moreira, Sérgio Cabral Filho e Luiz Fernando Pezão e foram filiados Anthony Garotinho e Rosinha Garotinho. Estes chegaram a ser encarcerados, mas foram soltos. Todas as prisões ocorreram nos últimos três anos.

Outros dois ex-governadores ainda vivos – Nilo Batista (PDT) e Benedita da Silva (PT) – não passaram pelo cárcere. Eles, no entanto, não foram eleitos para o cargo. Eram vice-governadores que assumiram o Palácio Guanabara após a renúncia dos titulares.

Os ex-governadores que estão presos ou passaram pela prisão chefiaram o governo estadual por cerca de 19 anos. Em onze deles, atuou o esquema de corrupção chefiado por Cabral, governador de 2007 a 2014, que teria continuado sob o governo de Pezão.

Moreira Franco governou o Rio de 1987 a 1991. Derrotou Darcy Ribeiro (PDT), candidato da situação, em 1986. Para vencer, Moreira reuniu em torno do PMDB uma ampla coligação e aproveitou a onda de apoio gerada pelo Plano Cruzado ao governo José Sarney, também peemedebista. Na campanha, em meio ao crescimento da criminalidade durante o primeiro governo Brizola (eleito em 1982), prometeu acabar com a violência em seis meses, o que não conseguiu. A má avaliação do governo Moreira abriu caminho para o retorno de Brizola, em 1990.

Em 1994, Brizola renunciou para concorrer à Presidência e Nilo Batista completou o mandato. Foi sucedido por Marcello Alencar. Em 1999 assume Garotinho, que governou até 2002, quando renunciou em favor de Benedita para tentar a Presidência. Naquele ano, Rosinha foi eleita governadora. O casal apoiou a primeira eleição de Cabral para o governo, em 2006. Oito anos depois, Cabral apoiou a eleição de Pezão, único governador preso no exercício do cargo, em 2018.