Valor econômico, v.20, n.4764, 04/06/2019. Brasil, p. A3

 

Desempenho do banco, supostamente fraco, provoca descontentamento 

Francisco Góes 

Talita Moreira 

04/06/2019

 

 

O desempenho do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) tem motivado um descontentamento crescente da equipe econômica com o presidente da instituição, o economista Joaquim Levy, e começa a ser discutida a possibilidade de substituí-lo, segundo apurou o Valor. Uma hipótese que vem sendo cogitada é colocar no comando do banco o atual secretário especial de Desestatização e Desinvestimento, Salim Mattar. A percepção é que, no BNDES, ele teria mais condições de tocar a agenda de vendas de participações acionárias.

De acordo com fonte que acompanha o assunto, o plano de desinvestimentos e de redução do banco não está avançando na velocidade esperada, e a avaliação é que o perfil de Levy contribui para isso. Falta a ele, segundo essa fonte, capacidade de execução. A lentidão no BNDES incomoda também os bancos de investimento, conforme noticiou o Valor em meados de maio. Há poucas semanas, algumas dessas instituições tentaram convencer o BNDES a aproveitar a máxima histórica das ações da JBS para fazer um follow-on (venda de ações no mercado) de sua participação, mas não houve definição.

Fontes do banco dizem que a carteira de ações da BNDESPar é muito grande e que os desinvestimentos, mesmo sendo feitos, demoram a mostrar resultados. Ao fim do primeiro trimestre de 2019, as participações societárias da BNDESPar somavam R$ 77,4 bilhões, acima dos R$ 69,5 bilhões de dezembro de 2018. De janeiro a março, a venda de participações em empresas, em especial de Fibria e Petrobras, garantiu ao banco lucro de R$ 11 bilhões. O banco costuma vender suas ações em bolsa.

A BNDESPar, a empresa de participações do BNDES, tem uma política escrita de compra e venda de ações segundo a qual se analisa o melhor momento para o desinvestimento e, nessa avaliação, considera-se a maturidade da ação na carteira. Significa que a BNDESPar não vende a qualquer preço, mesmo que haja uma diretriz do governo para diminuir o tamanho da carteira de ações do banco.

Para os técnicos do BNDES, o assunto se tornou ainda mais complexo uma vez que o Tribunal de Contas da União (TCU) vem olhando com lupa as decisões do banco na área de mercado de capitais. A preocupação se justifica porque os técnicos podem responder na pessoa física caso o TCU considere que a decisão de venda foi equivocada. Isso ficou evidente nas discussões sobre JBS, cujos processos administrativos no tribunal continuam em curso e envolvem um número relevante de funcionários. As decisões de venda de ações, portanto, precisam ser tecnicamente justificáveis e serem todas documentadas para posterior verificação pelos órgãos de controle.

A apontada inoperância do BNDES, na gestão Levy, tem outros elementos. Um aspecto que precisa ser considerado é o desempenho pífio da economia, que tem mantido em queda os principais indicadores de desempenho do banco desde o ano passado. De janeiro a março, as consultas, principal indicador de intenção de investimento, caíram 41% em relação ao mesmo período de 2018, enquanto as aprovações de novas operações recuaram 38%. Dados preliminares relativos a abril de 2019, que só serão conhecidos na divulgação do desempenho do segundo trimestre, indicam que a demanda sobre o banco continua inalterada. "Não se pode botar toda a culpa do mau desempenho do banco nas costas de Levy", disse uma fonte do BNDES.

Ao mesmo tempo, porém, o próprio corpo técnico do banco aponta supostos erros da atual administração. Entre empregados, existe a visão de que a gestão Levy é lenta na tomada de decisões, o que se vincularia, em boa medida, ao perfil cauteloso e desconfiado do atual presidente, que costuma pensar muito antes de tomar qualquer medida. Há, inclusive, quem não veja em Levy o perfil de gestor que o banco precisaria. "É um CFO no lugar do presidente", criticou um técnico. Uma medida que tirou impulso do BNDES na atual crise foi a decisão de Levy de mudar a linha de capital de giro, produto que foi relançado em outras condições.