Título: Greve de bancários atormenta correntista
Autor: Dinardo, Ana Carolina
Fonte: Correio Braziliense, 19/09/2012, Economia, p. 11

Primeiro dia de paralisação teve a adesão de 5.132 agências no país. Sindicatos pedem reajustes de 10%. Bancos oferecem 6%

A greve dos bancários iniciada ontem já provoca transtornos aos consumidores. Dados da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf), que reúne 130 sindicatos, indicam que, no primeiro dia de paralisação, 5.132 agências e unidades administrativas em 26 estados e no Distrito Federal suspenderam o atendimento. Esse número é aos 4.191 postos fechados nas primeiras 24 horas do movimento no ano anterior.

O aborrecimento foi grande para quem precisou ir às agência das seis maiores instituições financeiras do país: Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal, Bradesco, Itaú Unibanco, Santander e HSBC. Muita gente teve que voltar para casa sem realizar os serviços desejados. Que o diga a secretária Luciana Marta Macedo, 47 anos. Ela não conseguiu adiantar o pagamento da prestação de R$ 1.270 do carro, o que lhe garantiria desconto nos juros. "A minha intenção era economizar, mas não acredito que até dia 25 (dia do vencimento da mensalidade) dê tempo para pagar com abatimento", lamentou.

O comerciante João Rodrigues Nascimento, 54, ficou desolado e teme que, no caso de uma greve demorada, sua dívida se torne uma bola de neve. Sem saber da decisão dos bancários, ele sacou de sua conta bancária a quantia certa para quitar a fatura do cartão de crédito, vencida há três dias. Mas não pode quitar o débito na boca do caixa. "Agora, não sei como fazer. Não tenho dinheiro suficiente para pagar no caixa eletrônico, nem pela internet", disse.

Também com problemas para pagar dívidas vencidas na boca do caixa, o contador Maurício Rios, 62, afirmou não entender o porquê de, todos os anos, os bancários insistirem em cruzar os braços, prejudicando a população. "Está complicado. Esse negócio de parar todos os anos é um tormento para todo mundo. Prejudica demais a vida das pessoas, sobretudo de quem só pode recorrer aos caixas dentro das agências", assinalou. É importante, porém, deixar claro: segundo os bancos, a greve não justifica o não pagamento de contas. O atraso acarreta e multa e juros.

O presidente da Contraf, Carlos Cordeiro, destacou que a paralisação só tende a aumentar diante da resistência dos bancos em não conceder reajuste salarial de 10,25%, além de discutir melhorias nas condições de trabalho para a redução dos constantes pedidos de demissão. As instituições oferecem 6%. "Lamentamos a falta de comprometimento dos banqueiros, que têm condições de propor reajuste adequado aos trabalhadores", disse Juvandia Moreira, presidente do Sindicato dos Bancários de São Paulo.

» Rotatividade

As centrais sindicais pediram ontem ao governo audiência pública para discutir propostas formuladas pelos trabalhadores para combater a rotatividade no mercado de trabalho brasileiro. A iniciativa, de acordo com o presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT), Vagner Freitas, é também demonstração de preocupação com o boato de que o governo faria alterações no seguro desemprego e no abono salarial. "Diminuir a rotatividade no mercado de trabalho ajuda inclusive o crescimento econômico", defendeu Freitas.