Título: Mantega e Barbosa irritam BC
Autor: Nunes, Vicente; Martins, Victor
Fonte: Correio Braziliense, 19/09/2012, Economia, p. 12

Declarações de que Selic não vai subir têm criado desconforto para chefe da autoridade monetária. Alta inflação preocupa

O presidente do Banco Central (BC), Alexandre Tombini, está desconfortável com as declarações constantes do ministro da Fazenda, Guido Mantega, e do secretário executivo da pasta, Nelson Barbosa, sobre a política de juros. Integrantes da equipe econômica relatam irritação do comandante da autoridade monetária com as garantias que os colegas têm dado de que as taxas não vão subir em 2013, uma decisão que só cabe à diretoria colegiada do BC. Ao contrário do ministro, especialistas do mercado apostam em elevação da taxa básica (Selic) no próximo ano, um processo que a levaria a, pelo menos, 8,25% ao ano.

As chances de alta, segundo esses analistas, são maiores que de baixa devido às pressões inflacionárias. As expectativas relatadas pelo boletim Focus, uma pesquisa semanal realizada pelo BC junto ao mercado, apontam que o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) deve ficar acima da meta neste e no próximo anos. Segundo técnicos do BC, ninguém, em sã consciência, deveria dizer o que Mantega e Barbosa têm dito, sobretudo diante da relutância da inflação em se manter abaixo de 5%. Ao afirmarem que os juros não vão subir, não só minam a confiança na autoridade monetária como estimulam uma onda de especulação que provoca estragos na economia.

Respeito Nos bastidores, fontes asseguram que o BC vem mantendo uma convivência considerada "muito boa" com a Fazenda, algo inédito nos últimos anos. Mantega e Tombini conseguiram estabelecer uma relação de respeito que só contribuiu para aumentar a confiança na política econômica do governo Dilma Rousseff. Agora, porém, a boa vizinhança corre riscos. Para técnicos do BC, a instituição tem feito sua parte permitindo que a presidente Dilma cumpra a promessa de campanha de deixar o Brasil com juros civilizados. Desde agosto do ano passado, a autoridade monetária reduziu a taxa básica de 12,5% ao ano para 7,5% — o menor nível da história. Essa queda foi promovida, segundo esses técnicos, com responsabilidade, sem comprometer a missão do BC de garantir a estabilidade de preços.