Valor econômico, v.20, n.4774, 18/06/2019. Brasil, p. A5

 

Gustavo Montezano, número 2 da privatização, assume o BNDES 

Fabio Graner 

Ana Krüger 

Carla Araujo 

Cristiane Agostine 

18/06/2019

 

 

O Ministério da Economia anunciou, ontem, a indicação de Gustavo Montezano para presidir o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) no lugar de Joaquim Levy, que pediu demissão no domingo após ataque direto e público do presidente Jair Bolsonaro na véspera. O novo presidente da instituição de fomento era o número dois da secretaria especial de Desestatização e Desinvestimento, comandada por Salim Mattar, que foi um dos nomes cotados para assumir o banco. E também é próximo dos filhos de Bolsonaro.

A escolha foi antecipada pela líder do governo no Congresso, Joice Hasselmann (PSL-SP), no Twitter. Na sequência, o Ministério da Economia confirmou a decisão em nota. Agora, a indicação de Montezano, que tem 38 anos, precisa ser aprovada pelo conselho de administração do banco, instância na qual o governo, com 100% do capital da instituição, tem total controle.

    "Graduado em engenharia pelo Instituto Militar de Engenharia (IME) e mestre em Finanças pelo Ibmec, Montezano tem 17 anos de carreira no mercado financeiro. Foi sócio do Banco Pactual, tendo atuado como diretor-executivo da área de commodities em Londres e, anteriormente, como responsável pela área de crédito, resseguros e 'project finance'", disse o comunicado da pasta comandada por Paulo Guedes que também agradeceu o trabalho de Joaquim Levy.

    Com a demissão do então titular ocorrendo de forma desorganizada, o suspense em torno da escolha do substituto durou a maior parte da segunda-feira. Secretários do Ministério da Economia, que se reuniram com Guedes, evitaram entrevistas. E o próprio titular da pasta evitou a imprensa e ao longo do dia entrou e saiu do ministério pela entrada privativa.

    Segundo fontes da área econômica, a nomeação de Montezano para o banco tem como alvos uma maior celeridade na devolução de recursos do BNDES ao Tesouro Nacional e também da venda de ativos do banco na carteira do BNDESPar (o braço de investimentos em participações da instituição). Além disso, segundo o porta-voz da Presidência, Otávio do Rêgo Barros, ele terá a missão de abrir a suposta "caixa-preta" de empréstimos do banco para investimentos de empresas brasileiras em Cuba e Venezuela.

    A forma agressiva com que Bolsonaro tratou Levy, provocando seu pedido de demissão no domingo, continuou repercutindo ontem. Temores de uma "caça às bruxas" eram manifestados nos bastidores da Esplanada dos Ministérios. E a fala do porta-voz da Presidência na noite de ontem não serviu para aliviar em nada esses temores.

    "O presidente tem por concepção pessoal, naturalmente, a percepção de que eventuais pessoas que tenham participado de governos que colocaram o país nessa situação catastrófica em que se encontra não devem compartir conosco a possibilidade de promover a melhoria do Brasil", disse o porta-voz. "É neste contexto que o presidente trabalha. Por outras vertentes, a escolha das pessoas que hão de dirigir os vários órgãos do governo", completou, acrescentando que isso ocorre "dentro de um caráter técnico".

    Em uma fala dura ontem pela manhã, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), criticou a forma com que Bolsonaro agiu com Levy e Marcos Barbosa Pinto, que comandava a diretoria de Mercado de Capitais do BNDES e que Bolsonaro exigiu a demissão por este ter trabalhado no governo do PT. "Foi uma covardia sem precedentes", afirmou Maia.

    Ele também criticou a postura de Guedes no episódio. Disse que o ministro "precisa garantir equilíbrio" e o responsabilizou pelas demissões. "Guedes errou, mas já está decidido. Demitir faz parte da vida, é um direito do governo, mas da forma como foi feito, criar suspeição sobre Marcos Pinto, que trabalhava com Arminio [Fraga] até tempos atrás…", disse Maia. "Joaquim Levy veio de Washington para trabalhar no governo. Está errado, não pode tratar as pessoas desse jeito. Quer demitir, chama e demite.

    O ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, minimizou a demissão de Levy e disse que houve "incompatibilidade" e falta de "sintonia" com o presidente Jair Bolsonaro. "É a vida que segue", disse. "Houve uma incompatibilidade de gênios, não houve sintonia entre o que desejava o presidente e como trabalhava o doutor Levy".

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    Com troca, desestatização deve ganhar novo impulso 

    Fabio Graner 

    18/06/2019

     

     

    A escolha de Gustavo Montezano para a presidência do BNDES aponta na direção de se reforçar o processo de privatização na economia, desejado pela equipe econômica comandada pelo ministro Paulo Guedes. O ex-banqueiro do BTG Pactual e amigo dos filhos do presidente Jair Bolsonaro atuava como adjunto do secretário especial de Privatização e desestatização do Ministério da Economia, Salim Mattar, outro nome próximo não só de Guedes, mas também do presidente República.

    Ele entrará no banco com a missão de dar maior celeridade não só às vendas de participações do BNDESPar, que vinham sendo cobradas de Joaquim Levy, mas também à modelagem das privatizações de companhias do governo em parceria com a secretaria da qual já fazia parte e que é responsável por executar o programa de redução do "Estado empresário".

    O Valor apurou que Mattar chegou a ser convidado para a função, mas preferiu ficar onde está. Também haveria dificuldades legais para ele assumir o cargo por ter trabalhado na campanha presidencial. Mas o secretário acabou emplacando um dos seus principais auxiliares, em um reforço à mensagem de dar mais velocidade às privatizações.

    "O BNDES vinha sendo muito lento nisso, e Montezano tende a dar mais celeridade", disse uma fonte do governo, destacando o histórico do novo presidente do banco como conhecedor do mercado de capitais e atuante em projetos de privatização e de fusões e aquisições.