Correio braziliense, n. 20443, 11/05/2019. Política, p. 4

 

Temer pode ir para quartel

Augusto Fernades

11/05/2019

 

 

Superintendência da PF em São Paulo tem de improvisar cômodos para abrigar ex—presidente. Justiça deve decidir se ele muda de prisão

Sem condições de oferecer uma sala de Estado-Maior ao ex-presidente Michel Temer (MDB), a Superintendência da Polícia Federal em São Paulo ouviu a defesa do emedebista e, agora, aguarda a autorização da 7ª Vara Criminal Federal do Rio de Janeiro para transferi-lo a um quartel da Polícia Militar na capital paulista. Desde que foi preso na última quinta-feira, Temer ficou em duas salas improvisadas dentro do prédio da corporação.
Diretor executivo da Polícia Federal em São Paulo, Luiz Roberto Ungaretti de Godoy enviou um ofício à juíza Caroline Figueiredo, substituta de Marcelo Bretas na 7ª Vara Criminal Federal do Rio, que, até a noite de ontem, não havia tomado uma decisão. No documento, Ungaretti pede autorização para que Temer seja levado de forma imediata à sala de Estado-Maior do Comando de Policiamento de Choque da PM paulista.
Enquanto Caroline Figueiredo não tomar uma decisão, Temer permanecerá preso na sede da Polícia Federal em São Paulo, onde se apresentou na tarde da última quinta-feira. Na primeira noite na prisão, ele ficou em uma sala de reuniões do 9º andar. Uma cama de solteiro foi levada para o cômodo para que o ex-presidente pudesse dormir. O espaço, no entanto, não tinha banheiro, o que forçou o emedebista a deixar a sala sempre que tivesse necessidade de usar o toalete.
Por conta disso, ontem Temer foi colocado em outra sala, que conta com um banheiro privativo. O cômodo ainda foi adaptado com a mesma cama de solteiro em que ele passou a noite de quinta-feira e com um frigobar. “Isso não é só porque é um ex-presidente. Quero deixar claro que não estamos falando de privilégio. Estamos falando de assegurar aquilo que deve ser assegurado, em termos de privacidade, de preservação de intimidade para qualquer pessoa presa”, disse o advogado de Temer, Eduardo Carnelós.
Ex-ministro da Secretaria de Governo de Temer, Carlos Marun visitou o emedebista na tarde de ontem, na condição de advogado. Nas palavras dele, a prisão do ex-presidente é injusta. A reclusão de Temer vai durar, pelo menos, até terça-feira, dia em que o colegiado da 6ª Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ) vai apreciar o pedido de habeas corpus da defesa do ex-presidente.
Cautela
O relator do caso é o ministro Antonio Saldanha, que definirá, com os ministros Sebastião Reis, Rogério Schietti, Nefi Cordeiro e Laurita Vaz se mantem ou não Temer na prisão. Caso a solicitação não seja aceita, os advogados do emedebista terão a opção de recorrer ao Supremo Tribunal Federal (STF).
Eduardo Carnelós, contudo, prefere manter cautela. “Não vamos impetrar no STF antes da apreciação de terça-feira. Temer mostra a indignação própria de quem é vítima de injustiça, mas tem uma característica forte na personalidade, que é a da serenidade. Ele confia no Poder Judiciário. Lamentavelmente, às vezes, é necessário transpor degraus para obter uma solução justa”, afirmou o advogado.
Temer é acusado pelo Ministério Público Federal (MPF) de ser o chefe de uma organização criminosa que, ao longo de décadas, teria movimentado R$ 1,8 bilhão em propina da Usina de Angra 3. Ele voltou à prisão depois de a 1ª Turma do Tribunal Regional Federal da 2ª Região (TRF-2) votar pela revogação do habeas corpus que o havia libertado em 21 de março, quando ele foi preso na Operação Descontaminação.

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Juíza nega R$ 111 mil

 

 

 

 

 

 

11/05/2019

 



A juíza da 7.ª Vara Federal Criminal do Rio de Janeiro, Caroline Figueiredo, rejeitou pedido da defesa de Michel Temer para que fossem desbloqueados R$ 111 mil reais mensais para cobrir despesas da família do ex-presidente. No despacho, a magistrada afirmou que os gastos do emedebista representam um “padrão muito acima da média da vida brasileira”.
A decisão foi tomada na quinta-feira, no mesmo dia em que Temer se apresentou para o cumprimento de prisão preventiva, a segunda na Operação Descontaminação, braço da Lava-Jato no Rio.    
A Justiça determinou um bloqueio de até R$ 62 milhões contra Temer, que atingiu R$ 8,2 milhões de contas bancárias do emedebista. O ex-presidente apresentou à Justiça em 9 de abril um detalhamento de seus gastos mensais, de R$ 96.766,31 em média. Entre os pagamentos estão R$ 500 com clube, R$ 9 mil com funcionários, R$ 1,5 mil com diarista, R$ 13 mil com cartões de crédito do ex-presidente e sua mulher, Marcela, e outros débitos que chegariam a R$ 51,9 mil. 
Quando fez o pedido de desbloqueio, a defesa de Temer argumentou que os valores “não tem como escopo o custeio/manutenção de despesas com luxos e, portanto, supérfluas” e eram para “despesas fixas mensais”.